Diagnóstico tardio ainda é um obstáculo no combate ao câncer
Coluna foi publicada nesta segunda-feira (22)
O câncer é uma doença complexa que, apesar dos avanços da ciência que trazem tratamentos mais eficazes com o passar do tempo, ainda é uma condição desafiadora para médicos e pacientes.
Pelas suas próprias complexidades, o câncer já muda a vida de uma pessoa, mas alguns obstáculos tornam a jornada do paciente ainda mais difícil. Uma delas é o diagnóstico tardio.
Esse problema se dá, principalmente, por dois motivos. Um deles é quando se trata de um câncer silencioso, para o qual ainda não há exame de rastreio, e os sintomas geralmente aparecem na fase avançada da doença.
O outro é quando não há agilidade necessária para que o problema seja diagnosticado em seu estágio inicial, deixando paciente vulnerável às complicações que essa demora pode provocar.
Segundo uma pesquisa realizada com apoio da farmacêutica Bristol Myers Squibb (BMS), 33% dos entrevistados enfrentaram uma espera de até dois anos desde os primeiros sintomas até a descoberta do câncer. E 95% dos pacientes passam por até quatro especialistas diferentes até conseguir fechar o diagnóstico.
A pesquisa foi feita com pacientes de ambos os sexos em tratamento pelo sistema público de saúde, com idades entre 18 e 55 anos. As queixas citadas foram feitas, em grande parte, por entrevistados com cânceres na mama, próstata, colorretal, pulmão e estômago, neoplasias que estão na lista das mais incidentes no Brasil.
Faz parte da nossa responsabilidade enquanto médicos reforçar sempre, e ao maior número de pessoas possível, a importância de estar atento aos sintomas suspeitos e buscar ajuda médica para investigá-los.
Contudo, nos deparamos muitas vezes com uma realidade diferente e difícil, que é a falta de agilidade no atendimento a esses pacientes com suspeita e até aqueles com a doença já confirmada. O diagnóstico rápido é uma necessidade real na vida de qualquer paciente oncológico, assim como a celeridade na marcação de consultas e facilidade no acesso a exames.
Infelizmente, o que parece óbvio ainda é preciso ser enfatizado: seja na rede pública ou privada, a qualidade dos serviços de saúde necessita de ajustes, principalmente para que qualquer paciente tenha a chance de ser diagnosticado e tratado em tempo hábil. Qualquer demora no tratamento pode levar a doença para estágios mais avançados e à diminuição das chances de cura.
Falhas na estratégia de atenção ao paciente oncológico no sistema de saúde podem causar um impacto imenso. Para isso, é urgente que governos e demais entidades voltadas para a assistência à saúde priorizem políticas mais efetivas que garantam o acesso e o cuidado que cada pessoa precisa, independentemente de sexo, idade ou classe social.
Alguns tipos de câncer, devido às suas características naturais, continuam sendo difíceis de detectar antes que estejam em fases mais avançadas, mas essa realidade não pode ser agravada por atrasos e negligência no atendimento àqueles que precisam de assistência imediata. A valorização da vida que tanto defendemos também passa por essa prioridade.
