Contaminação dos oceanos pelo microplástico chega à alimentação
A superfície do nosso planeta é coberta por mais de 70% de água vinda dos oceanos. Essas águas prestam imensuráveis serviços, influenciando no clima, na estabilização da temperatura, na retirada de CO2, na disponibilidade de oxigênio aos seres vivos e são fonte da maior biodiversidade do planeta. Não são as florestas — ao contrário do que muitos pensam — o “pulmão do mundo”, mas sim os oceanos com seus fitoplanctons, pequenas algas que produzem uma quantidade enorme de oxigênio.
Mesmo com toda essa relevância, os oceanos vêm sendo “enterrados” com uma enorme quantidade de lixo, sobretudo plásticos. Aproximadamente 5% de todo o plástico produzido no mundo vai parar nos oceanos.
De acordo com a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), o Brasil despeja cerca de 2 milhões de toneladas de lixo por ano no nosso litoral.
Os plásticos correspondem a cerca de 90% do lixo que chega ao litoral brasileiro. Esses são os resíduos que conseguimos ver, mas ainda existem os microplásticos, partículas tão pequenas que são associadas à cadeia alimentar da vida marinha e incorporadas, por exemplo, na carne dos peixes que consumimos todos os dias. Dessa forma, esses microplásticos vão parar em nosso organismo.
Estudos realizados por cientistas do Canadá demonstraram que a ingestão de microplásticos pelos seres humanos pode chegar a 121 mil partículas por ano a depender da idade e sexo.
Ainda não sabemos bem quais os impactos gerados por essas partículas em nosso organismo, uma vez que não temos estudos publicados com humanos.
Já em outros animais, estudos mostram a possibilidade de problemas que vão desde obstrução estomacal, dificuldade de absorção dos alimentos, alterações nas funções de hormônios sexuais, até formação de tumores promovidos por substâncias tóxicas advindas dos diferentes tipos de plásticos existentes no mercado.
De acordo com a ISWA (Associação Internacional de Resíduos Sólidos), os microplásticos já foram identificados em vários sais comercializados e até na Fossa das Marianas, a 11 km abaixo da superfície do mar.
Alguns estudos vêm mostrando que cerca de 80% dos resíduos encontrados nos oceanos vêm do continente, ou seja, resultam da baixa eficiência da gestão dos resíduos das cidades e/ou são oriundos do descaso da população, que descarta seus resíduos de maneira indiscriminada no meio ambiente.
Dessa forma, a boa gestão dos resíduos gerados nas cidades desempenha papel crucial para a diminuição dos resíduos que chegam aos oceanos. Investir no setor de coleta de resíduos sólidos, sobretudo na coleta seletiva, em uma visão de economia circular sustentável, bem como em educação ambiental, faz-se vital para frear a poluição marinha. O futuro dos oceanos depende do que nós fazemos aqui em terra firme.
Marcos Thiago Gaudi é doutor em Biologia