Alimentação precisa estar sempre em pauta na educação
Artigo publicado na coluna Tribuna Livre, do Jornal A Tribuna
Na missão de ser parte integrante da formação de cidadãos habilitados a atuar na sociedade de forma cooperativa e saudável, as escolas olham por prismas, dentre eles também o de educar para uma função básica, mas de extrema importância: a de comer.
Afinal de contas, por mais que seja até instintivo, alimentar-se ultrapassa o ato de ingerir alimentos para saciar a fome. Na cultura da maioria dos países, nutrir-se é um ato social, cultural e afetivo. Além disso, é um hábito com potencial de impactar, positiva e negativamente, o desempenho físico, acadêmico e profissional.
O lado bom é que, apesar de pouco se refletir sobre isso, o alimentar-se bem é algo que pode ser aprendido. Natural, então, que faça parte dos currículos escolares, com estratégias que oportunizem a experimentação de alimentos, sempre estimulando hábitos saudáveis, incluindo o bom comportamento à mesa, e uma relação amigável com as comidas.
Tratando-se de crianças – faixa etária em que educar para fazer boas escolhas em sentidos amplos é fundamental –, o momento de se suprir de nutrientes precisa ser divertido e instrutivo.
Conforme a idade, são inúmeras as possibilidades, mas rodas de conversa, plantio de sementes, cultivo, colheita, preparação de receitas e desafios de experimentação têm se revelado atividades de resultados satisfatórios.
Todas elas, entretanto, precisam estar associadas a algo prazeroso, nunca punitivo, sem tornar a comida também, especialmente as gordurosas ou açucaradas, recompensas por bons comportamentos ou notas.
O desafio é ensinar a criança a reconhecer o que está ingerindo para, quando adulto, ser capaz de fazer boas escolhas de forma autônoma, sem compulsões ou restrições radicais, mas com equilíbrio, consciência e diversidade.
Nesse ponto, entra uma grande oportunidade de trabalhar com as disciplinas tradicionais por ser um conteúdo pertinente de ser abordado nas aulas de Biologia, relacionando a comida com o funcionamento do corpo humano; de História, mostrando a origem dos alimentos; de Idiomas, ensinando os nomes das comidas em diferentes línguas; de Matemática, abordando princípios de proporcionalidade das receitas; de Química, gerando curiosidade quanto às reações que acontecem quando as substâncias presentes em alimentos são ingeridas juntas.
É certo que esse não é um papel somente da escola, precisa ter o endosso da família. Mas a abordagem do tema em ambiente escolar, além do cuidado com o que se oferece nas refeições da própria instituição, oferece uma contribuição importante para a formação do paladar da criança, eliminando inclusive preconceitos alimentares.
Lançar luz sobre esse assunto não é uma inventividade para diversificar o ensino, pois há anos a obesidade tem sido uma questão de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a sobrenutrição é tão preocupante quanto a subnutrição, tendo aquela prevalência sobre essa. Cientes disso, que nós, enquanto educadores, façamos a nossa parte.