Alerta para o risco de outros desastres em meio à pandemia
Neste início de ano, o País se depara com algo inusitado que expõe a fragilidade de nossa sociedade em enfrentar um desastre relacionado a infecções virais dessa magnitude. Da falta de estrutura hospitalar até o desafio de atingir um ponto de equilíbrio entre o isolamento social e a necessidade de fazer a economia girar, passando pela dificuldade da população em manter hábitos de higiene e de prevenção condizentes com a situação.
Por tais motivos, é notório o caráter prioritário que devemos dar ao combate à pandemia do novo coronavírus. Nesse aspecto, o governo do Estado está totalmente focado em ações, que, por óbvio, custam dinheiro.
Somado às questões de queda de arrecadação, temos também o aumento de recursos destinados à assistência da população menos favorecida e aos novos desempregados, gerando um aumento na procura dos serviços públicos.
Educação, saúde, assistência e segurança são áreas que serão mais demandadas e necessitarão de mais recursos.
Outra complicação são as aquisições que não estavam no planejamento orçamentário, deixando o governo extremamente fragilizado em seu caixa.
Entretanto, não podemos deixar de olhar um pouco mais à frente. Olharmos para depois da pandemia ou concomitante a ela.
Falo dos eventos climáticos extremos, como a chuva e a seca. Eles não esperarão a pandemia arrefecer para mostrar seu lado negativo. Devemos trabalhar fortemente as questões de prevenção.
Será que o Estado e os municípios terão fôlego para dar suporte e assistência aos afetados por esses possíveis desastres? As ações de combate à pandemia e a queda de arrecadação imporão uma situação ainda mais difícil.
Mas o alerta é que, sendo seca ou enxurrada, o Estado não terá a mesma capacidade de apoiar os municípios, refletindo num menor poder de assistir à população.
A ideia é que os municípios reforcem as ações de prevenção para esses possíveis momentos de infortúnio, contando com a participação efetiva da população.
Trazendo um outro fator complicador e após analisar diferentes dados, podemos intuir que as mudanças climáticas são uma realidade e seus impactos estão aí e tendem a aumentar.
Uma importante ferramenta para nos prepararmos de forma condizente é o Fórum Capixaba de Mudanças Climáticas, que possibilita uma construção de políticas públicas realmente efetivas e com resultados práticos.
Pelas dificuldades já mencionadas nessa roda viva, é imprescindível que a população assuma o protagonismo de seu bem-estar.
Desde pequenas coisas, como deixar de jogar lixo em encostas, a criar uma percepção de risco mais forte, até questões mais complexas, tais como evitar os adensamentos populacionais em áreas de risco (com famílias numerosas e de baixo poder aquisitivo) e o exercício da cidadania de forma plena e republicana.
O mundo deverá se moldar a uma nova realidade. Devemos trocar o vigiai e orai, pelo orai e fazei.
ANDRÉ CÓ SILVA é coronel do Corpo de Bombeiros e coordenador estadual de Defesa Civil.