A vida começa aos 40 anos, mas, quando termina?
Artigo da coluna Tribuna Livre
Quando estava no começo da vida adulta; recém-formado, recém-casado e recém muitas outras coisas, imaginava que tinha iniciado a minha trajetória de vida. Porém, sempre ouvia o dito popular que a vida começa aos 40. Por curiosidade esperei chegar aos 40, até com uma certa ansiedade.
Estava com 40 anos, mas pouco mudou. Claro que era um homem bem mais experiente, esperando uma nova vida que iniciaria, conforme todos afirmavam. Entendi que naquele momento, tinha filhos na pré-adolescência, casamento solidificado, bom emprego e até casa própria, luxo para a maioria dos brasileiros. Porém, onde estava a “nova” vida? Não percebi ou nascera camuflada.
Com o passar do tempo, aquela ansiedade foi diminuindo e sumiu completamente, mas veio outra mais intrigante. Se começa aos 40, quando termina?
Claro que não considerava um término existencial, definido com a morte, mas um término produtivo, de futuros planos e rumos. Sem rumos, nunca teremos ventos favoráveis.
Com mais de 70 anos, tive que operar os joelhos, prótese em ambos. Como não podia, apesar de querer, operar os dois juntos, fiquei mais que um semestre de repouso forçado. Confesso que cheguei a pensar que a vida termina aos 70.
Do nada, meu pensamento se voltou para a época de estudante, quando participei de duas peças teatrais, em anos consecutivos, na Semana da Engenharia; Vitória de setembro e Setembrino, e Animais não Desanimais, ambas de autoria do talentosíssimo Milson Henriques, personagem importante no movimento cultural capixaba. Com tudo que acontece hoje no Estado e no País, imagino o querido Milson vivo, com suas ácidas e inteligentes críticas, seria sensacional.
Senti que cultura se faz de várias maneiras: escrevendo livros, pintando, compondo músicas e outras alternativas. No repouso pós-operatório, resolvi escrever um romance, com o descrédito da esposa e dos filhos. Por teimosia, insisti. Hoje estou prestes a lançar o meu quarto livro. Os três anteriores agradaram aos amigos e leitores, recebendo até elogios literários aqui no jornal A Tribuna.
Todo esse relato é para afirmar, com certeza, que a vida termina quando a gente permite. Planos futuros, continuo tendo. Depois do lançamento do quarto livro, escreverei o quinto com certeza, e por aí vai.
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Agora, estou “vivendo” a preparação e divulgação do meu novo livro, planejando passar o Dia de Ação de Graças com o filho que mora nos Estados Unidos, e quando possível, vencer novas barreiras, se as condições físicas permitirem. Posso hoje, com certeza, afirmar que a vida não começa aos 40 e não tem prazo de validade.
Espero que tenha convencido você, caro leitor, a viver a vida na esperança de prolongar ao máximo os planos futuros. Dizem que o futuro a Deus pertence, que nada, nos pertence, sempre pedindo que Ele fique atento, nos olhando de longe como uma mãe olha um filho brincando num parquinho.
Agora, não podemos deixar de levar em conta a data inesperada e indesejada do nosso final físico. Aí, não tem jeito, só nos resta deixar saudades, exemplos, ensinamentos e no meu caso livros, que com certeza meus netos, bisnetos e por aí afora, lerão.
CARLOS ALCESTES DE QUEIROZ é escritor e engenheiro