A verdade sobre a Independência do Brasil
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (05)
Neste 7 de setembro, comemoramos no Brasil os 202 anos da sua Independência de Portugal. A história conta que D. Pedro, às margens do rio Ipiranga, declarou que o Brasil seria um Estado independente. E que neste momento bradou: “Independência ou Morte”.
A imagem está retratada no quadro de Pedro Américo, finalizado em 1888 a pedido de D. Pedro II, filho de D. Pedro. Na pintura, em exposição no Museu do Ipiranga, aparece o primeiro imperador brasileiro sobre um cavalo, de espada erguida, com dezenas de homens.
Passados mais de dois séculos, as concepções da Independência mudaram. Diversos estudos na área foram feitos. A Independência do Brasil foi um processo construído. À época, D. Pedro sofria forte pressão de Portugal para retornar à metrópole, após uma série de medidas que abriu o Brasil economicamente e alçou o país à condição de Reino, ao lado de Portugal e Algarves. Diante desse impasse, já que os portugueses queriam restringir a liberdade econômica brasileira e retornar o país à condição de colônia, além de diminuir os poderes de D. Pedro, forçando-o a voltar à Europa. É um episódio que corresponde ao fim do domínio português sobre o Brasil, principalmente nas relações econômicas e políticas.
A Independência, defendem alguns historiadores, foi proclamada às margens do pequeno rio Ipiranga. Há relatos de pessoas que estavam na caravana de D. Pedro que a célebre frase “Independência ou Morte” realmente foi dita. Apesar da importância histórica, o quadro de Pedro Américo não é 100% fidedigno ao que realmente ocorreu em 7 de setembro de 1822. D. Pedro estava em São Paulo, voltando de Santos, no litoral, para conter manifestações e acalmar os ânimos dos descontentes com o então cenário político. Segundo testemunho do padre Belchior Pinheiro, que integrava a comitiva, D. Pedro recebeu de mensageiros uma série de cartas que o deixaram com raiva. Ele amarrotou os papéis e pisou-os e deixou-os na relva —então não estava sobre o cavalo.
A Independência foi o processo histórico de separação entre Brasil e Portugal. O país organizou-se como monarquia que tinha Dom Pedro I como imperador. Relatos históricos registram que a Independência só foi consolidada quando os portugueses foram expulsos da Bahia em 2 de julho de 1823 por tropas que misturavam soldados com voluntários: mulheres, negros escravizados e libertos, pequenos lavradores, sertanejos. Para historiadores, essa face popular da luta pela Independência na Bahia levou ao seu apagamento da história do país, construída pelas elites desde a monarquia. Na Bahia, o 2 de julho tem status da data cívica em que é celebrada a verdadeira Independência do Brasil.
O povo brasileiro ignora a sua história, e não sabe o real significado da Independência. Em 7 de setembro de 1822, tivemos o fim simbólico de um longo processo de formação nacional e um capítulo fundamental da nossa missão coletiva. A independência, mesmo que tardia, já era certa. Foi, portanto, “o grito de 7 de setembro”, o encerramento de um longo desenvolvimento e formação de consciência e identidade nacional brasileira. Era agora o Brasil uma nação com plena capacidade de se autodeterminar e figurar entre as outras comunidades nacionais.
- Manoel Goes Neto é produtor cultural, escritor e diretor no IHGES
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