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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

A Glória

Coluna foi publicada no domingo (04)

Pedro Valls Feu Rosa | 05/08/2024, 11:53 h | Atualizado em 05/08/2024, 11:53

Imagem ilustrativa da imagem A Glória
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Divulgação

Brasil, Espírito Santo, Vila Velha, bairro Glória - um conhecido polo da indústria de confecções. Li que em função das importações de tecidos chineses cerca de 70 fábricas de lá fecharam suas portas, após uma queda entre 35% e 40% no faturamento.

Soube também que o impacto da concorrência com a China na indústria brasileira é tão significativo que 67% das empresas exportadoras brasileiras que competem com produtos chineses perderam clientes – e outras 4% deixaram de exportar. Além disso, 45% das empresas que competem com o gigante asiático perderam participação no mercado brasileiro.

Há quem diga que o culpado é o alto custo do trabalhador brasileiro. Eu discordo. Afinal, os produtores chineses de tecidos contam com a vantagem de 27 tipos de apoio diferentes, concedidos pelos governos federal, provinciais e municipais.

Os benefícios vão desde incentivos tributários e crédito facilitado até o controle dos preços das matérias-primas, passando por fundos de apoio à exportação – constatação de um estudo norte-americano.

Citarei um pequeno exemplo: quando os preços do algodão no mercado externo chegaram a US$ 2 por libra-peso as tecelagens chinesas continuaram pagando apenas US$ 1, graças à interferência do Estado – que também ajuda com descontos no custo da energia, financiamentos camaradas e até terrenos para construção de fábricas.

Enquanto isso li no jornal “Deccan Herald”, lá da Índia, a seguinte notícia: “Corantes tóxicos que podem causar câncer foram detectados em alguns tecidos chineses, criando preocupação de que consumidores possam ser expostos a riscos”.

Na Arábia Saudita, essa preocupação também existe. Segundo reportagem publicada pelo jornal “Al-Eqtisadiah”, “cerca de 10% das roupas importadas (da China) contém componentes causadores de câncer”.

Repercutindo essa matéria, o jornal “Arab News” ouviu um representante do governo chinês. Segue sua resposta sobre os culpados: “São os comerciantes sauditas que pedem sempre produtos baratos”. Simples assim.

Sou leitor diário de diversos jornais. Poderia citar, em complemento ao que já escrevi, reportagens que encontrei sobre substâncias altamente tóxicas encontradas em produtos tão diversos como pasta de dentes, alimentos, água, móveis, calçados, brinquedos etc. Mas limitei-me, aqui, a lançar algumas luzes sobre a questão têxtil.

Não sou, e fique muito claro, adepto do isolamento – defendo a integração plena com outros países. Sou inimigo declarado das barreiras comerciais e defensor intransigente do livre-comércio.

Sim, nada veria de incorreto em expor nossas empresas a uma concorrência saudável. Porém, o que temos testemunhado passa ao largo do que conhecemos como “concorrência” ou “livre-comércio”.

Acredito que seja chegada a hora de, com justiça e serenidade, discutirmos de forma profunda as exatas dimensões e consequências dessa “abertura dos portos” promovida no Brasil ao longo das últimas décadas – e que pode levá-lo a ser um país… sem glória!

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