A queda do Fla e a beleza do esporte coletivo
No auge do “oto patamar”, falava-se em hegemonia do Flamengo, supremacia continental por muitos anos e tudo o mais. Tais convicções por enquanto foram por água abaixo porque a beleza do esporte coletivo reside justamente no fato de que uma andorinha só não faz verão mesmo. Ter uma equipe vencedora depende de pessoas, situações e até de sorte.
Claro que quando o dinheiro entra a rodo, as chances de êxito aumentam. Mesmo assim, bastam erros em pontos-chave para que tudo derreta. No caso do Flamengo, o ano milagroso de 2019, com um reinício avassalador em 2020, contou com um “alinhamento planetário” difícil de se ver no esporte. Começando com escolhas de elenco que poderiam dar errado, mas deram muito certo, passando por um técnico excepcional que deu àquela massa a liga necessária para crescer e se tornar um espetáculo esportivo como há muito não se via.
A receita poderia ter se repetido, mas, mesmo com Jorge Jesus, já havia sinais no Campeonato Carioca que algo não era mais o mesmo. Coisas do esporte coletivo, que não tem receitas infalíveis. Continuar o que vinha dando certo ou renovar? A direção do Chicago Bulls, depois de seis títulos incríveis no basquete americano, decidiu mudar tudo e abrir espaço para o novo e não ganhou mais nada desde então.
Esse grupo do Flamengo pode dar certo com qualquer técnico? Talvez não. Certas palavras ditas por Jorge Jesus a Bruno Henrique, Gabigol, Arrascaeta e Everton Ribeiro talvez tenham sido determinantes para jogar o que jogaram. Palavras saídas de outras bocas podem não ter o mesmo efeito.
Também é possível que a mágica do esporte coletivo se faça presente nesse time mais uma vez, quando os jogadores recuperarem a forma física e a força do conjunto, evidentemente perdidas na pandemia. Mas se for isso, que se ponha o desastre dos últimos jogos na conta da soberba, também esse um pecado crucial no esporte.
E o Dome? Bem, o que ele não demonstrou até agora é ter uma personalidade forte, impositiva. Estou buscando na memória e até agora não lembrei de um técnico vencedor sem essa característica.
Por fim: rei morto, rei posto? Olha o Galo vindo aí!