Você sabe perder?
Cláudio Miranda, terapeuta de Família e Psicopedagogo Clínico
Alguns, quando perdem, ficam agressivos. Outros, choram, e há os que tentam mudar as regras do jogo porque não suportam a ideia de perder. E você, como fica quando não consegue algo ou quando a coisa não acontece do jeito que você gostaria?
Na vida adulta, pessoas com dificuldades em perder e em aceitar o fracasso criarão muitos problemas no grupo de convívio.
Elas tentarão mudar as regras do jogo a todo custo. Se mostrarão indignadas e poderão alegar que foram prejudicadas e que a competição deverá começar de novo.
Pessoas assim serão um problema constante no casamento, com os colegas de trabalho e na família. É comum ouvi-las dizer que foram traídas ou injustiçadas.
Chamamos esse comportamento de baixa tolerância à frustração. Essa dificuldade em aceitar uma perda ocorre em todas as idades, com crianças, adolescentes e adultos.
Na maioria das vezes esse comportamento é construído na infância e adolescência por pais e mães indecisos e inseguros. Por serem permissivos demasiadamente tornam seus filhos mimados e de personalidade frágil.
“Ganhar de bandeja”, “Lei do menor esforço” e “Carregar no colo” são algumas expressões em nossa língua que falam de situações de ganho fácil sem um empenho da própria pessoa.
O sofrimento pelo qual uma pessoa passa traz o merecimento da disputa e desenvolve nele a capacidade de lutar. Há pais e escolas que numa competição chegam ao absurdo de premiar todos os participantes para que ninguém sofra com a derrota. Isso é um erro terrível.
Há situações em que os pais devem negar um pedido aos filhos. Se eles recebem tudo o que querem, poderão ter dificuldades em receber um 'não' na vida adulta. Quanto mais cedo, melhor para aprender a encarar uma derrota. Para que cresçam persistentes e autoconfiantes, deve-se ensiná-las a perder desde pequeno e a superar essa perda de uma forma saudável, por mais que isso possa lhe doer.
Suportar dificuldades deve ser comum desde cedo. Essa vivência é que vai preparar o filho para a vida. Por exemplo: uma menina de sete anos não gosta muito de perder, então o irmão e ela não jogam mais um contra o outro.
Ele não quer mais deixá-la ganhar. Quer competir de igual para igual, porque entende que a irmã não é mais “café com leite”.
Os obstáculos que uma criança passa ao longo de sua vida a fortalece emocionalmente para resolver e lidar de forma madura e saudável com as dificuldades na vida adulta.
Na vida e na sociedade, o tempo todo temos uma competição e uma prova a fazer, na forma de um concurso, uma vaga para um emprego, uma prova para passar de ano, etc.
Quem não estiver preparado para isso, poderá sofrer muito e desistir da luta saudável pela sua vida e pelo seu crescimento profissional.
Equivocadamente, aprendemos desde pequenos que errar é feio e é humilhante. Na verdade, o erro e o fracasso nos fazem crescer e sermos melhores quando continuamos tentando sem desistir.
Cláudio Miranda é terapeuta individual e familiar, psicopedagogo clínico, pós-graduado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP
SUGERIMOS PARA VOCÊ: