Os cheiros que sua casa tem
Coluna foi publicada no sábado (30)
Uma das nossas memórias mais poderosas é aquela vinculada aos cheiros que você sentiu ao longo da vida, principalmente na sua infância e adolescência. Volte a sua atenção para a sua infância e relembre os odores da sua casa.
A sua memória olfativa pode dizer muito de você e das relações estabelecidas na sua infância com a sua família.
Há determinados perfumes que te fazem resgatar, do passado, lembranças e sensações boas ou ruins. Toda casa tem seus cheiros específicos, sejam agradáveis ou desagradáveis. Cada um deles te conecta a um lugar, a uma pessoa e a um sentimento.
Esses cheiros nos remetem a situações de carinho, proteção, amparo, presença e pertencimento. Nossas relações de cuidados estão diretamente ligadas às nossas memórias e experiências olfativas.
E esses sentimentos atuam fortemente na estruturação da personalidade e na autoconfiança da criança e do adolescente.
Um indivíduo adulto seguro de si e estabilizado emocionalmente, certamente teve vivências olfativas muito positivas na sua formação.
Mesmo em situações de crise interior, ele encontra nessas lembranças a força necessária para caminhar e superar seus desafios.
Por outro lado, tem casa que é inodora, outras têm cheiro de mofo e de descuido.
Há aquelas em que o odor de coisas guardadas e o mau cheiro impregnam o ambiente comprometendo sua energia. Isso pode causar um desequilíbrio e contribuir para uma desestruturação no comportamento e psiquismo das pessoas que moram ali.
Você passa em uma rua e sente um cheirinho gostoso de café e vem à sua mente uma lembrança da sua infância com sua mãe ou avó. A memória pode ser tão boa que faz com que você até se sinta com vontade de parar em algum lugar e tomar um “café com memórias”.
Uma casa viva e dinâmica tem cheiro de comida sendo preparada. O cheiro intenso de alho sendo refogado, o bife com cebola fritando na frigideira, e os temperos cortados na pia exalando um aroma de família, de união e de cuidado. Tudo isso nos conecta à nossa vida afetiva e às emoções que experimentamos em cada situação.
Se você tem um filho acostumado a dormir no seu quarto, forre a cama dele com um lençol e fronha usados anteriormente por você.
O “cheiro de mãe” impregnado no lençol tranquiliza e acalma o filho dando uma sensação de proteção e de presença, fazendo-a adormecer mais tranquilamente. É quase uma mágica.
Uma vez uma paciente me disse que por volta dos 17 anos foi morar em outro país por um tempo com o pai. Ela levou consigo um perfume da mãe, para se lembrar dela passando um pouco daquele perfume debaixo do nariz.
Valorize os cheiros e os significados que eles têm pra você. Procure ressignificar aqueles que te remetem a pensamentos mais negativos e desagradáveis.
Os aromas de uma casa podem dizer muito sobre as pessoas que moram ali. Há cheiros que irritam, desestruturam as pessoas, suscitam raiva e agressividade.
E há odores que acalmam e tranquilizam, pacificam e nos confortam interiormente. Mudar os cheiros do seu ambiente pode transformar memórias difíceis em fontes de força interior para uma vida melhor e mais perfumada.