O mito da família perfeita
Muita gente sofre por não ter a família que gostaria. Para uns é o marido ríspido, para outros é a esposa não atenciosa ou os filhos que não gostam de estudar. Vivemos um modelo de relação que nem sempre nos proporciona alegria e bem-estar.
Queremos um marido perfeito, esposa perfeita e filhos perfeitos. A insatisfação com a vida familiar pode gerar brigas constantes na relação e até o fim de um casamento.
Quando você olha para dentro do ambiente da sua casa o que você vê é parecido com a família que você sonhou ter um dia? É comum acontecerem comparações com outras famílias conhecidas e consideradas como melhores.
Tendemos a fazer esse tipo de julgamento porque não conhecemos o ambiente da outra casa e não convivemos com aquelas pessoas.
Uma valorização excessiva do marido, esposa e filhos dos outros pode estar sinalizando uma insatisfação ou tristeza em relação à vida e à família que se tem.
Isso é ruim porque cria no ambiente uma energia negativa e um clima emocional proporcionador de autoconceito depreciativo e de baixa autoestima. Crianças que crescem nesse ambiente poderão desenvolver um comportamento de autodesvalorização e hipervalorização das pessoas de fora.
Esse desejo de perfeição está diretamente ligado ao desejo de sucesso e de beleza que é valorizado em todo o mundo. É feio ser imperfeito, é humilhante ser incapaz de fazer algo, é vergonhoso errar. Essas crenças são equivocadas e limitantes.
Quando você se cobra que tem que ser bom, belo e forte o tempo todo, você sofre. Ao vivermos o mito da perfeição, sofremos terrivelmente por isso. Somos sombra e luz e nisso se resume a essência humana.
Uma indicação de superação desse problema é perceber as diferenças e dificuldades de cada um e procurar descobrir o lado bom que todos têm. Todo mundo tem o seu valor e suas compensações. Nosso desafio é aceitar nossas dificuldades e limites.
Experimente fazer um jogo terapêutico apontando um defeito de alguém da família seguido de duas ou três compensações que essa pessoa tem.
Por exemplo: seu filho tem o defeito de ficar tempo demasiado ao computador, mas é prestativo quando precisa dele e tem boas notas na escola. Agora pense o que você diria do seu marido ou da sua esposa? E o que os filhos diriam dos pais e dos irmãos?
Quando sugiro que não sofra com as imperfeições de sua família, não estou dizendo que você deva aceitá-las. Procure, a cada dia, transformar alguma particularidade em você e procure criar uma nova forma de se relacionar com as pessoas com quem convive.
Aceitar a sua imperfeição é um ato de coragem e poderá livrar você de muitos problemas e preocupações sem sentido no seu dia a dia.
A família é a segurança e a proteção. Ela é a base e a estrutura da formação de um indivíduo. Aceite as diferenças que existem entre os membros da sua família. Acredite no potencial do amor e na capacidade de superação para uma vida melhor.
Cláudio Miranda é terapeuta individual e familiar, psicopedagogo clínico, pós-graduado pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP