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Opinião Internacional

Colunista

Se espernear, o apelido pega!

Coluna foi publicada no domingo (11)

José Vicente de Sá Pimentel | 12/08/2024, 12:18 12:18 h | Atualizado em 12/08/2024, 12:18

Imagem ilustrativa da imagem Se espernear, o apelido pega!
José Vicente de Sá Pimentel é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

Nos bons tempos, a rapaziada de Vila Velha sabia que era preciso ter cuidado com apelidos. Se a gente não gosta, melhor não demonstrar; quanto mais espernear, mais fácil pega.

Nos EUA, os republicanos não seguiram essa regra simples da malandragem vila-velhense, e estão pagando o preço.

Tim Walz, governador de Minnesota, foi escolhido como companheiro de chapa de Kamala Harris por bons motivos.

Tem 24 anos de serviço militar na Guarda Nacional do Exército, força de primeira linha na defesa do país; foi em seguida professor e “coach” do time da escola de sua cidade natal; defende causas chamadas progressistas, como os direitos reprodutivos das mulheres, mas é também um caçador, possui armas e, assim, na lógica atual, não pode ser considerado um esquerdista.

Elegeu-se ainda deputado federal seis vezes seguidas, de 2006 a 2018 (os mandatos na House of Representatives é de dois anos); eleito governador em 2018, foi reeleito em 2022.

No entanto, não foi apenas a sólida biografia que determinou sua escolha. O principal motivo é que ele começou a usar o termo “weird”, que pode ser traduzido como esquisitão, para caracterizar certos comportamentos dos republicanos.

Sua principal vítima é J.D.Vance, companheiro de chapa de Donald Trump. Num vídeo que bombou na internet, Vance revelou que considera mulheres sem filhos indignas de votar e ocupar cargos públicos, e pleiteou votos adicionais para pais com famílias numerosas.

Muitos democratas ficavam exasperados com esses e outros desvarios, mas a raiva não desaguava em resultados práticos. Até que apareceu Tim Walz dizendo que é muito esquisito esse pessoal que tem fixação em controlar mulheres, famílias e escolas, que deseja acabar com bibliotecas públicas e dar ao presidente poderes ditatoriais.

“Esquisito” é um termo genérico, impreciso, flexível o bastante para meter-se em múltiplas carapuças. Não equivale a um insulto ou a uma grosseria, não afasta e sim alicia as pessoas, como que ilumina o absurdo com um sorriso galhofeiro.

Esse riso está na base da animação que tomou conta dos comícios e está empoderando os democratas na batalha da comunicação eleitoral, que assumirá um lugar cada vez mais proeminente nos três meses que precedem as eleições de 5 de novembro.

Os debates políticos americanos costumavam seguir certas regras. Eram sérios, duros, porém bem-educados. Os valores americanos eram reverenciados, sobretudo a democracia, considerada a ideia base do “American way of life”.

Trump mudou tudo isso. Não se aprofunda em nenhum assunto, limita-se a repetir que tem as soluções para todos os males, e ninguém mais pode competir com ele. Distorce hoje aquilo que disse ontem, e distorcerá amanhã de novo, se julgar conveniente. Trata os adversários com desdém, coloca apelidos e insulta aqueles que o desagradam, sejam de que partido forem. Apesar disso, seus apoiadores permanecem fiéis. É o típico político teflon. Pelo menos, era.

Os republicanos estão dando mostras de que sentem a mudança dos ventos. Vários deles começaram a dizer que os esquisitos são os democratas, mas a gente sabe que esse tipo de reação faz consolidar o apelido.

Depois de se preparar para enfrentar Joe Biden, surpreende-se com o vigor da campanha de Kamala, que a cada dia arrecada milhões de dólares e registra inscrições recordes de novos eleitores e de comitês de colaboradores.

Trump e seus marqueteiros ainda não encontraram antídotos para o entusiasmo democrata. O ex-presidente parece sem foco. Quinta-feira, no seu clube de golfe em Mar a Lago, deu uma entrevista a alguns jornalistas e fez comentários estapafúrdios, comparando-se favoravelmente a Martin Luther King – um comportamento, como diria Tim Walz, esquisitíssimo.

Os próximos dias deverão continuar favoráveis à campanha de Kamala e Walz. De 19 a 22 de agosto, será realizada a Convenção Nacional Democrata, e as convenções funcionam com uma lua de mel entre os partidos e seus apoiadores. Em seguida virá o debate televisivo, marcado pelos dois contendores para 10 de setembro. A verdadeira campanha se desenvolverá a partir daí.

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