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Opinião Internacional

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Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

Diferenças entre Brasil e EUA

Confira a coluna de domingo (19)

José Vicente de Sá Pimentel | 20/01/2025, 13:58 h | Atualizado em 20/01/2025, 13:58

Imagem ilustrativa da imagem Diferenças entre Brasil e EUA
José Vicente de Sá Pimentel, nascido em Vitória, é embaixador aposentado

Nos meios acadêmicos, as comparações entre o Brasil e os Estados Unidos são recorrentes. Desde Viana Moog, no início dos anos 50, muitos estudiosos desdobram-se em análises sobre os motivos pelos quais países com tanto em comum – dimensões continentais, abundância de recursos naturais, populações originárias de três continentes, experiência com o colonialismo e a escravidão – seguiram trajetórias tão diferentes.

Em recente artigo, o professor Omar G. Encarnación, do Bard College, identifica afinidades e contrastes marcantes na atualidade dos dois países, só que desta vez as diferenças são favoráveis ao Brasil. Encarnación parte da premissa de que Trump não é um fascista na tradição europeia, e sim um caudilho que inaugura a latino-americanização dos nossos irmãos do norte, introduzindo o cardápio típico do caudilhismo: glorificação de um líder supremo, dotado de carisma e não de ideologia, que cria com o público uma dependência emocional visceralmente autoritária.

Segundo Encarnación, Bolsonaro espelhou a experiência trumpista, inclusive ao replicar, em 8 de janeiro de 2023, a tentativa de golpe de estado, promovida, em 6 de janeiro de 2021, pelo seu mentor. As semelhanças acabam aí. A reação das sociedades brasileira e americana não poderia ter sido mais diferente. Nos EUA, Trump foi reeleito com quase 72 milhões de votos populares, quase 5 milhões a mais do que Kamala Harris. Dispensado pela Suprema Corte de punições por seus delitos, o transgressor tomará posse amanhã, numa cerimônia turbinada por milhões de dólares doados por bilionários sequiosos de agradar o chefão.

No Brasil, o papo é outro. O STF sustenta vigorosa defesa dos preceitos constitucionais, e conta com o apoio de 86 por cento da população contrários à invasão dos Três Poderes, como comprovaram, há dez dias, as pesquisas Quaest.

Em matéria de valores, estamos em harmonia com o tradicional discurso democrático americano. Isso não nos assegura, porém, uma convivência tranquila com os Estados Unidos durante o segundo e, previsivelmente, ainda mais caudilhesco mandato de Trump. A experiência histórica de lidar com caudilhos como Perón e Chavez não nos vale muito, nenhum deles tinha uma economia de 27 trilhões de dólares, nem uma reserva de 1.600 ogivas nucleares.

A diplomacia brasileira terá no corrente ano muita visibilidade internacional, o que é sempre prestigioso; no entanto, por isso mesmo as armadilhas se multiplicarão ao longo do caminho. As agendas do Brasil e dos EUA não conjuminam. A prioridade máxima da diplomacia de Trump, a julgar pelas declarações do futuro Secretário de Estado Marco Rubio na sabatina do Senado, quarta-feira última, será impedir que a China continue “a trapacear para se tornar uma superpotência”. Ora, os chineses são nossos confrades no BRICS, órgão cuja presidência nos cabe este ano, ademais de serem o nosso maior parceiro comercial, o maior investidor e um potencial sócio na tecnologia espacial. A disputa entre os dois atinge-nos por tabela.

Nossa vocação para potência ambiental bate de frente contra o negacionismo de Trump, cuja insensibilidade para os fenômenos climáticos e absoluto desdém pela ciência foram explicitados, no início da semana, nos comentários que fez sobre a tragédia da Califórnia. Como engajar os Estados Unidos nas conversas sobre a transição energética durante a COP-30, que vamos presidir em novembro?

Por outro lado, consola saber que o novo governo provavelmente dará à América Latina a mesma importância que teve no primeiro mandato de Trump, ou seja, nenhuma. Talvez repercutam em Washington as eleições presidenciais no Chile, em novembro, e as legislativas na Argentina, em novembro. Agrados a Javier Milei e ao chileno José Antonio Kast decerto estarão nos tuítes trumpistas e outras arapucas que, espero, tiraremos de letra.

Enfim, vai dar trabalho, mas sobreviveremos. Talvez os piores desafios nos cheguem pelas ondas da internet. Elon Musk e Mark Zuckerberg são elementos de alta periculosidade, à disposição de Trump. Enquanto não brigarem entre si, precisaremos de gelo no sangue e total atenção aos nossos interesses permanentes para resistir às provocações que, sem dúvida, lançarão.

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