Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Opinião Internacional

Colunista

Brasil e a força apaziguadora

Coluna foi publicada no domingo (13)

José Vicente de Sá Pimentel | 14/10/2024, 09:38 09:38 h | Atualizado em 14/10/2024, 09:38

Imagem ilustrativa da imagem Brasil e a força apaziguadora
Guerra no Oriente Médio: Brasil terá de atuar como força apaziguadora a partir de 2025, quando assume presidência do BRICS |  Foto: HATEM MOUSSA/ASSOCIATED PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A primeira intervenção relevante do Brasil nos assuntos do Oriente Médio foi obra do acaso. Em janeiro de 1947, Oswaldo Aranha viajava aos Estados Unidos a convite da revista Time, quando recebeu do presidente Dutra a incumbência de chefiar a delegação do Brasil à primeira Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU).

O então chanceler Pedro Leão Velloso falecera em Nova York em 15 de janeiro, Aranha havia sido chanceler e a sua tarimba vinha a calhar naquela emergência. O traquejo de Aranha levou-o à presidência da reunião, à luz do que o Itamaraty o encarregou de chefiar também nossa delegação à segunda AGNU, em setembro. A Grã-Bretanha havia solicitado a inclusão da questão palestina na agenda dessa segunda sessão.

Eleito mais uma vez presidente, Aranha não defendeu propriamente a partilha; trabalhou, isso sim, para formar no plenário um consenso quanto à necessidade de tomar-se uma decisão sem delongas. Não deu outra, por maioria de votos foi aprovada a partilha do território então administrado pela Grã-Bretanha entre Israel e Palestina.

O discurso de Aranha ao final da reunião virou até capa do New York Times, mas os palestinos e os árabes não aceitaram a partilha. Horas depois de David Ben-Gurion proclamar, em 14 de maio de 1948, a criação do Estado de Israel, forças do Egito, Iraque, Jordânia Líbano e Síria bombardearam Telavive, iniciando a primeira de cinco guerras - a última das quais cumpriu um ano de destruição e mortes no último dia 7, e segue matando e destruindo. Se os estopins dos conflitos variaram, os resultados foram iguais: vitórias militares e anexações de terras por Israel, e fuga de centenas de milhares de palestinos para territórios cada vez mais exíguos.

Após 76 anos de hostilidades, é ocioso perguntar quem tem razão. Ninguém tem. Todos sofrem, todos perdem, ninguém estará em segurança enquanto não forem estabelecidas regras de convivência minimamente aceitáveis para todos os lados. Ao longo do tempo, a política externa brasileira guiou-se por essa constatação e não se arvorou a propor soluções, por escaparem do seu raio de ação. Não nos eximimos porém da responsabilidade de participar das tratativas diplomáticas que tratavam do tema.

Fizemos ouvir nossa voz, amparados na força do exemplo que as comunidades árabes e hebraica constituídas no Brasil davam ao mundo, ao conviverem em paz, harmonia e benefício mútuo. O escritor líbano-francês Amin Maalouf, em seu livro “O mundo em desajuste”, baseia-se no modelo brasileiro para propor que as diásporas árabe e judaica em todo o mundo atuem para diminuir as tensões no Oriente Médio, valorizando a humanidade comum que as une. Esta é uma tese que merece ser defendida.

Hoje, as relações do Brasil com Israel caíram ao patamar mais baixo da história. Grosserias do chanceler Israel Katz para com nosso embaixador em Telavive, e a classificação do presidente Lula como “persona non grata” foram ocorrências lamentáveis. Nada é, porém, tão ruim que não possa piorar.

No próximo dia 20, terá início a última reunião do Brics sob a presidência russa. O Brasil assumirá a presidência em 2025, cabendo-nos, em consequência, responsabilidades acrescidas na definição da agenda.

Espero que a guerra no Oriente Médio não seja uma pauta brasileira; nem por isso, contudo, deixará de haver quem queira incluí-la nos trabalhos. Para tanto, o Irã, novo membro do BRICS, encontrará apoio na Rússia e, provavelmente, da China, para não falar da África do Sul, que instaurou, em dezembro passado, processo na Corte Internacional de Haia contra Israel, pelo crime de genocídio contra os palestinos em Gaza. O Brasil precisará atuar como uma força apaziguadora, em conformidade com a nossa tradição.

Torço para que o acaso nos favoreça e retire esse tópico da agenda dos Brics. A pauta que realmente nos interessa é a do meio ambiente e a COP-30 de Belém do Pará será o momento certo de consolidar nossos trunfos nessa matéria.

Dois furacões nos EUA em menos de um mês, as enchentes no Rio Grande do Sul e tantas outras tragédias decorrentes da mudança climática sublinham a urgência de uma ação internacional concertada e efetiva nessa matéria, e a Amazônia nos dá régua e compasso para liderar o processo.

Imagem ilustrativa da imagem Brasil e a força apaziguadora
José Vicente de Sá Pimentel é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

SUGERIMOS PARA VOCÊ: