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Olhares Cotidianos

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Colunista

Síndrome da Mulher-Maravilha

Confira a coluna desta quinta-feira (13)

Sátina Pimenta | 13/03/2025, 14:14 h | Atualizado em 13/03/2025, 14:14

Imagem ilustrativa da imagem Síndrome da Mulher-Maravilha
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: - Divulgação

“Você não é obrigada a cuidar de todo mundo”. A frase foi dita com a firmeza cortante de um menino de 13 anos, meu filho, em meio a uma discussão feia. Feia porque eu estava cansada, porque me senti confrontada e porque, no fundo, ele estava certo. Feia porque, apesar de tudo que eu ensino, estudo e até levo para a terapia, a verdade dita por ele doeu mais do que deveria.

A tal da “Síndrome da Mulher-Maravilha” não existe nos manuais de diagnóstico. Não está no DSM, no CID, em nenhuma classificação médica oficial. Mas a gente sabe que existe. Não é um transtorno mental, mas é uma condição crônica da vida de muitas mulheres: aquela sensação de que temos que dar conta de tudo e de todos, porque, se não fizermos, ninguém mais fará.

Eu sou psicóloga. Sou professora. Explico, com a segurança de quem sabe o que diz, que quando assumimos papéis que os outros podem e devem desempenhar, eles simplesmente não os desempenham. Ensinar isso em Psicologia Social é fácil. Viver isso no dia a dia é um inferno.

E foi assim que cheguei nesse ponto: brigando com um menino de 13 anos que, sem formação acadêmica e sem consulta aos teóricos, resumiu minha sobrecarga numa sentença que desmontou minha lógica inteira. Eu não sou obrigada a cuidar de todo mundo.

Mas quem cuida, então? A resposta está nas entrelinhas da frase favorita do meu marido: “Enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé.”

Se tem quem faça, os outros não se mexem. Se tem quem carregue, a carga nunca se redistribui.

O problema da Síndrome da Mulher-Maravilha não é só a sobrecarga física e mental. É a culpa que a acompanha. Porque, no fundo, a gente quer que as coisas sejam bem-feitas.

Queremos ser necessárias. Queremos manter a casa rodando, o trabalho fluindo, os afetos bem cuidados. Mas, ao fazer isso, garantimos que os outros nunca precisem fazer.

E o pior: acreditamos que, se algo der errado, a culpa é nossa. Afinal, o filho é da mãe… bem-sucedido ou não, é da mãe.

Na terapia, falo sobre isso. Sobre como é difícil soltar, confiar que o mundo não desmorona sem a gente. Sobre como a gente fica brava quando percebe que podia ter largado a corda antes.

E aí o Dia Internacional da Mulher passou. Homenagens foram feitas, flores foram entregues, discursos foram ditos. Mas no dia seguinte, quem ainda está sobrecarregada?

Eu não quero que ninguém jogue tudo para o alto, largue os filhos, o trabalho ou os cuidados com os outros. O que quero — e o que estou tentando aprender — é permitir que a vida aconteça sem achar que preciso controlar tudo ao redor. Sem carregar toda a culpa quando algo dá errado.

Porque, no fim, não se trata de largar os pratos. Mas de entender que, se um cair, talvez ele nem fosse nosso para segurar.

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