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Olhares Cotidianos

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Colunista

“Me mimei” entre o consumo e o amor-próprio

Leia a coluna desta quinta-feira (19)

Sátina Pimenta | 19/12/2024, 14:25 h | Atualizado em 19/12/2024, 14:25

Imagem ilustrativa da imagem “Me mimei” entre o consumo e o amor-próprio
Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária |  Foto: - Divulgação

Nos últimos dias, uma tendência viralizou nas redes sociais: “Me mimei, Me mimei, Me mimei mesmo!”. Tudo começou quando uma influenciadora compartilhou um vídeo em que brincava sobre “se mimar” com a compra de um objeto de luxo. O vídeo deu origem a uma série de publicações de internautas replicando a ideia: presentear-se como uma forma de celebrar. 

O que preocupa é que, geralmente, esse “mimo” está associado a objetos de consumo. De preferência luxuosos, como o da influenciadora.

Não há problema algum em comprar algo que nos faça felizes ou que simbolize um reconhecimento do nosso esforço. Esse tipo de autovalorização é, sim, importante.

Todos precisamos nos reconhecer e nos presentear de tempos em tempos. Contudo, minha preocupação recai sobre a ideia de que o “mimo” precise, invariavelmente, ser um objeto material e ainda que este mimo esconda, na verdade, uma questão psicológica mal resolvida, desencadeando uma compulsão!

Vivemos em uma sociedade de consumo onde este é frequentemente associado à nossa existência e identidade. Então, vamos iniciar nossa conversa distinguindo alguns termos: consumo, consumismo e compulsão pelo consumo, para que eu consiga melhor explanar minha preocupação.

Consumo: Relaciona-se às nossas necessidades, sejam elas biológicas (como alimentação) ou sociais (como ter um celular para se comunicar).

Consumismo: Caracteriza-se por um consumo exagerado, mas que não impacta diretamente a vida financeira, social ou emocional da pessoa.

Compulsão pelo consumo: Aqui, o consumo deixa de ser uma escolha consciente e se torna um problema. É uma tentativa de preencher um vazio interno, funcionando como um “placebo” emocional. A compulsão, no entanto, não resolve a questão de fundo, e o sentimento de vazio retorna, muitas vezes acompanhado de culpa, alimentando um ciclo vicioso.

E é nesse ponto que surge o alerta: quando o ato de “se mimar” transforma-se em autoengano. Presentear-se com objetos pode, sim, ser prazeroso, mas não deve ser a única forma de cuidado ou valorização pessoal.

Porque, se assim o for, estamos ocupando o espaço de sentimentos com tais objetos (placebos). Só que objetos não duram para sempre e uma hora o vazio vai gritar!  

“Mimos” que promovem o bem-estar não precisam estar associados ao consumo material. Mimar-se pode significar dedicar mais tempo ao sono, aproveitar um café sem pressa, caminhar na praia, praticar um hobby, contemplar a natureza ou fazer terapia.

Esses atos de amor-próprio, muitas vezes negligenciados, têm um impacto muito mais duradouro e profundo na nossa saúde mental e emocional.

Antes de aderir a uma tendência ou transformar o consumo em sua única forma de recompensa, pergunte-se: esse mimo é uma expressão de amor por mim mesmo ou uma tentativa de preencher um vazio? A resposta pode mudar sua forma de se cuidar.

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