O risco invisível da IA para crianças e adolescentes
Uso precoce da IA por crianças pode afetar o desenvolvimento cognitivo e exige mediação responsável
Desde que se popularizou em 2022, a inteligência artificial (IA) tem sido apontada como a grande revolução do nosso tempo. Presente em celulares, assistentes virtuais, plataformas educacionais e até em brinquedos, a IA se infiltrou no cotidiano de milhões de crianças e adolescentes.
Mas enquanto os olhos do mundo brilham diante das promessas dessa tecnologia, no meio acadêmico acende-se um sinal de alerta: quais os reais impactos do uso precoce e indiscriminado da IA no desenvolvimento cognitivo de crianças e adolescentes?
Não há dúvidas de que a IA, quando usada de forma pedagógica e supervisionada, pode ser uma grande aliada no processo de aprendizagem. Recursos de realidade virtual inteligente, por exemplo, possibilitam experiências imersivas e cativantes, transformando o ensino tradicional em uma verdadeira jornada de descobertas.
No entanto, o outro lado da moeda é mais preocupante. O uso espontâneo e sem mediação da IA por crianças e adolescentes pode comprometer habilidades mentais essenciais, como a capacidade de aprender, reter informações, raciocinar, resolver problemas e aplicar o conhecimento com eficácia.
Em salas de aula de todo o país, professores já relatam os primeiros efeitos negativos. Muitos alunos passaram a terceirizar suas atividades escolares para ferramentas de IA, abandonando o esforço mental necessário para construir conhecimento de forma autônoma.
A inteligência artificial, nesse contexto, vira uma “muleta cognitiva” para quem ainda está aprendendo a caminhar com as próprias pernas. Um artigo da respeitada Revista Psicopedagogia alerta para o desequilíbrio cognitivo provocado pelo uso excessivo da tecnologia por crianças e adolescentes. A pesquisa indica que essa prática pode potencializar transtornos de atenção, ansiedade, compulsão, além de comprometer habilidades de linguagem e comunicação – elementos fundamentais para o desempenho escolar e para a vida em sociedade.
A solução? Não está em proibir, mas em orientar e controlar. A tecnologia veio para ficar, e não faz sentido tentar barrar sua presença. O que pais e professores precisam fazer é assumir um papel mais ativo na mediação desse uso, incentivando que a IA seja aplicada apenas em contextos pedagógicos supervisionados.
Fora disso, é claro que o lazer também tem seu lugar: jogos, vídeos e entretenimento são parte da infância e podem – com limites – coexistir com uma rotina saudável.
A inteligência artificial não é vilã. O problema está no atalho que ela oferece: pular etapas importantes do desenvolvimento mental, substituindo esforço por conveniência. E isso, especialmente para os mais jovens, pode ser um preço alto demais a se pagar no futuro.
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