Para quem vai o seu voto
Os candidatos costumam declarar: vou governar para todos. É, de fato, o que devem prometer e cumprir, mas, na prática, há uma parcela da sociedade para quem o nome do prefeito ou prefeita pouco influi. Meu caso, por exemplo. Sou uma privilegiada. Tenho carro, não uso transporte público, nem creches e escolas públicas. O prédio onde moro tem câmeras e portaria 24h – não resolve o problema da violência das ruas, mas é uma proteção.
Tenho previdência privada e plano de saúde – também não significa que eu não precise eventualmente do SUS, mas ajuda muito a conseguir atendimento rápido e não ficar em filas.
Sou sócia de um clube com parque privativo, canchas de tênis, academia, piscinas, tudo limpo e bem cuidado. Meu lazer é exclusivo, com carteirinha de acesso.
Além disso, minha rede de contatos pessoais inclui médicos, advogados, engenheiros, empresários, jornalistas: se eu vier a precisar deles, basta um telefonema.
Claro que necessito, como toda a população, de ruas bem iluminadas e arborizadas, feiras livres, serviço de bombeiros e polícia, trânsito desobstruído, eventos culturais e tudo o que torna uma cidade acolhedora, mas, em se tratando das questões básicas, o prefeito ou prefeita que se eleger mudará pouco o meu dia a dia.
Enorme diferença fará, isso sim, na vida de quem depende do poder público para tudo: segurança, educação, transporte, saúde.
Ou seja, dos bairros e comunidades mais pobres. E mais ainda se não forem pessoas brancas e héteros como eu, que ainda tenho esta regalia: nunca fui vítima de preconceito.
As cidades que terão segundo turno ganharam mais tempo para pensar. Então pense. Se você tem os mesmos privilégios, dê uma chance a quem está se propondo a melhorar o cotidiano de quem vive com muito mais aperto que nós.
Ninguém será um salvador da pátria, isso não existe, todos os governantes acertam e erram, mas sejamos corajosos para apostar em gente jovem, gente que precisa da experiência de gerir uma cidade, que necessita dessa vitrine para mostrar a que vieram.
Permita que essa eleição faça parte da construção da carreira política de quem, certamente, buscará ir mais longe, e que não desperdiçará a oportunidade de começar bem.
Se onde você mora não há uma liderança renovadora competindo, que ao menos a juventude esteja no espírito do seu candidato. E no nosso.
Não tenhamos medo. Acomodação é para quem perdeu a capacidade de sonhar e de se comover. Falo por mim: considero emocionante votar. É quando me reconheço uma cidadã, alguém que importa, que é útil à sociedade. Vote dia 29.
Mas não vote pensando em você mesmo, nas suas crenças espirituais, nas suas simpatias ou antipatias. Vote pensando nos outros. Vote pensando naqueles que precisam urgentemente ser mais beneficiados do que você e eu.