O nosso astral
Durante uma das Lives de Casal comandadas por Patricia Parenza e Marcelo Pires, escutei algo interessante de Washington Olivetto, que foi entrevistado ao lado da mulher. Conversando sobre os bons tempos da agência W/Brasil, ele revelou que um de seus méritos era ser um excelente administrador de astral. Quem teve a sorte de trabalhar com ele, pode confirmar. Se o ânimo do pessoal murchava, Washington mandava distribuir sorvete para todo mundo: uma atitude prosaica com efeito instantâneo. Sem falar nas animadas “festas da firma”, com shows de Lulu Santos, Jorge Ben Jor e outros entendidos em diversão.
Se você não tem uma empresa, ao menos tem um teto onde dorme, almoça e vive. Então também entende do assunto: criar uma atmosfera.
Mesmo que tenha herdado móveis pesados cheirando a mofo ou que more num apartamento minúsculo com uma única janela, nada impede que receba os amigos com jazz, um café passado na hora, flores nos vasos (mesmo que colhidas num jardim público, ninguém precisa saber) e com a janela bem aberta.
Pode contar histórias engraçadas em vez de apenas se queixar, escolher filmes bacanas em vez de assistir a programas ordinários, ser afetivo em vez de arrogante, manter o ambiente sempre limpo e investir em alguma cor para quebrar a monotonia.
Vale para seu consultório também. Para sua loja. Sua barbearia. Seu mercadinho.
Vale para o país. É dever de todo presidente administrar o astral. Passar confiança, estimular a arte e a cultura, dar exemplo de comportamento, cuidar da natureza, ser gentil, ter compostura de chefe e, ao mesmo tempo, inteligência emocional para rir de si mesmo, humildade para reconhecer os próprios erros e evoluir, a fim de que todos em volta se sintam protegidos, seguros e confortáveis, orgulhosos do seu chão, com vontade de cantar no chuveiro, dançar na sala.
2021 precisa ser melhor do que 2020. A vacina virá e é possível que no segundo semestre a gente recupere algo parecido com a rotina que tivemos um dia. Parecido, não igual. Porque o astral do país despencou.
Ficamos inseguros em relação a tudo. Substituímos nosso natural bom humor pelo espírito de porco. Ninguém lá fora anda a fim de nos visitar, nem de receber nossa visita.
O Brasil se tornou desagradável, como aquele vizinho que nunca acende a luz, não areja a casa, usa um vocabulário chulo, só come enlatado e não junta o lixo sobre o tapete. Que não administra o astral dele, nem de coisa nenhuma, e compromete o prédio inteiro, deixando um cheiro de podre no ar.
Vacine-se. Salve-se. Deixe o vizinho turrão falando sozinho. Café e flores. Música e livros. Sol e amigos. Paz e amor. Um 2021 com muito sorvete para todos nós.