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Martha Medeiros

Martha Medeiros

Colunista

Martha Medeiros

Mães solo

| 21/02/2021, 10:21 h | Atualizado em 21/02/2021, 10:25

Imagem ilustrativa da imagem Mães solo

Semanas atrás publiquei uma coluna em que citava Amanda Gorman, que leu um poema na posse do presidente americano Joe Biden. Em dado momento do texto, a apresentei como ela mesmo se apresentou naquele dia, dizendo que era descendente de escravos e filha de mãe solteira. Não me senti confortável ao usar esta expressão, mas foi a tradução que fiz de single mother e, como não me ocorreu outra, deixei por isso. Depois que enviei o texto para o jornal, pensei: humm, vai chover reclamação, fui descuidada.

Mas a torrente não veio. Recebi uma única mensagem mencionando o fato, e nem foi de uma mulher, e sim de um leitor chamado Marcelo. Foi ele que, com muito tato, me puxou a orelha: você não conhece a expressão “mãe solo?”

Sigo perfis nas redes, leio livros, assisto a entrevistas, documentários, mantenho o radar ligado 24 horas e, ainda assim, tanta coisa me escapa: não, eu não conhecia a expressão mãe solo. Se ouvi, não retive.

Por isso, mesmo sem acusações, volto ao assunto para corrigir-me e para chamar a atenção de alguns outros desavisados, se houverem.

Décadas atrás, uma mulher não casar era uma tragédia, e desqualificava-se a vítima chamando-a de solteirona.
Não bastasse o rótulo pejorativo, ela era vista como amarga, infeliz e solitária – afinal, não havia sido “escolhida”. Não é de hoje que o mundo é cruel.

A roda girou e mulheres solteiras transam, com ou sem parceiro fixo. O casamento passou a ser uma opção, não um destino. E sendo a gravidez um efeito colateral do sexo, um dia o teste dá positivo.
Infelizmente, muitos ainda se apressam em julgar a grávida sem marido como uma aventureira ou irresponsável. Onde está o pai? Boa pergunta. Fugiu? Não quis assumir? Acontece muito.

Às vezes, ele não foge, ao contrário, assume com alegria a paternidade e divide as responsabilidades com a mãe, dando ao filho o mesmo amor que ela, mesmo sem formarem um casal.

Pode, também, ela engravidar numa relação casual e resolver criar o filho sozinha. Ou ela pode ter sido inseminada de um doador desconhecido.

Outra hipótese: ela pode ser homossexual e decidir ter um filho, adotado ou biológico, como um projeto próprio, particular.

Todas essas variantes têm um ponto em comum: seja qual for o caso, ninguém tem nada com isso, não é passível de julgamento.

Joan Wicks é uma professora californiana que criou sozinha seus três filhos, um menino e duas meninas, sendo uma delas, Amanda.

Joan era casada? Nunca foi? Não sabemos e não importa. O resultado é Amanda, uma menina elegante, talentosa e consciente, que demonstra ter recebido uma educação de muito valor de sua mãe solo.

Da mesma forma que há pais solos, e não pais solteiros. Solo. Uma pequena palavra pavimentando um avanço.

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