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Martha Medeiros

Martha Medeiros

Colunista

Martha Medeiros

A montanha que escalamos

| 31/01/2021, 19:18 h | Atualizado em 31/01/2021, 19:20

Imagem ilustrativa da imagem A montanha que escalamos

“Onde podemos encontrar luz nesta sombra sem fim?” É um verso e ao mesmo tempo uma pergunta que faz parte do poema que Amanda Gorman leu durante a posse do presidente americano Joe Biden, e que foi respondida por ela própria, ao se apresentar diante do planeta com seu faiscante casaco amarelo e seu sorriso luminoso. Durante os seis minutos que durou sua performance, ela esbanjou elegância, consciência, juventude, esperança, suavidade – isso tudo embalado em poesia. Amanda Gorman é um farol.

Boa parte dos americanos vibrou com o fim do governo Trump, e boa parte do mundo também, pois o que acontece nos Estados Unidos reflete em todas as nações. E o que refletiu foi o retorno da luz.

Biden não é um super-herói e certamente cometerá erros, mas é um democrata preocupado com o meio ambiente e com os direitos humanos, e escolheu como vice uma mulher negra com ascendência indiana e jamaicana.

Simbolismos que indicam que “para colocar nosso futuro em primeiro lugar, devemos antes colocar nossas diferenças de lado”, outro verso do poema de Amanda, ela própria descendente de escravos e criada por mãe solteira.

É muito difícil evoluir sem que se avaliem as consequências de decisões burocráticas na vida pessoal de cada um.

O poder sempre esteve atrelado às chaves do cofre, a tanques estacionados nos quartéis, a botões que disparam mísseis, a falsos apertos de mãos entre interesseiros – o povo é apenas um detalhe, como muitos já disseram.

Não me iludo, a política seguirá sendo um conluio de bastidor, que é um lugar escuro, mas recupero minha fé quando vejo governantes demonstrando empatia com o que acontece nas ruas e nos lares, que é onde os “detalhes” fazem a roda girar e o dia amanhecer.

Amanda, por breves instantes, foi uma porta-voz. Não só do novo governo americano, mas de um novo futuro que está tentando abrir nossas cabeças.

Até quando consideraremos arte e diversidade como assuntos menores? Por que a religião é tão soberana, enquanto a natureza (sagrada como qualquer Deus) é valorizada apenas como cartão-postal?

Colocamos preço em tudo, julgamos mal quem não se parece conosco, competimos por pódios que não existem: até quando seremos tão vulgares?

É uma montanha alta, a da sabedoria. E governos arrogantes não abastecem a população com equipamentos para escalá-la. Educação, oportunidades e respeito são nossas botas de alpinismo, nossos apetrechos para vencer cada etapa.

Amanda Gorman escolheu bem o título para seu poema, “The hill we climb”. É bonito ver jovens com ideais, traduzindo seus sonhos em versos e, com eles, retirando as pedras do caminho. O mundo não quer mais saber de sonhadores, eu sei, mas o mundo está errado.

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