Vencer já não basta
“Atuação tão ridícula que a torcida saiu frustrada com a vitória de 2 a 0 numa semifinal de Libertadores...”. A frase não é minha: é de um jornalista rubro-negro que acabava de deixar o Maracanã, já na madrugada da última quinta-feira. A caminho de casa, lamentava a atuação do Flamengo na vitória sobre o competitivo Barcelona de Guayaquil. Resultado, aliás, que deixou o time de Renato Gaúcho em situação confortável para garantir presença na final da Libertadores até com derrota de 1 a 0 no jogo de volta, na quarta-feira, lá no Equador.
Mas ela reflete um inconsciente coletivo que merece respeito. Principalmente do treinador que já se incomoda com cobranças que não se baseiam nos resultados dos jogos.
Renato precisa entender o quanto antes que Jorge Jesus, na passagem dele pelo Flamengo, fez mais do que simplesmente vencer os jogos.
O português ressignificou o papel do treinador e qualquer um que hoje assuma o cargo será cobrado pela estética do jogo.
É o ônus de um cargo desejado por dez entre dez técnicos. Algo medianamente proporcional ao bônus. Afinal, quem não queria ter à disposição um elenco repleto de jogadores selecionáveis, encorpado por astros experientes e jovens talentosos?
Qual o treinador não sonha em trabalhar numa estrutura como a que o Flamengo dispõe em seu Centro de Treinamento? E ainda por cima amparado por 40 milhões de torcedores.
Temo pela longevidade de Renato no cargo se continuar com o discurso de que não existe time imbatível e que o Flamengo vai perder alguns jogos. Sim, isso é verdade! Eu sei, o Manuel da portaria sabe, o meu amigo jornalista aceita e até Pep Guardiola já assumiu.
A questão é que muitos rubro-negros já não aceitam só a vitória ou os títulos, e cobram a cota-parte do treinador: controle absoluto do jogo, padrão tático e preocupação com o espetáculo.
E a maior prova disso está na curta passagem de Rogério Ceni no cargo, mesmo tendo conquistado três títulos em nove meses: o Brasileiro de 2020, mais a Supercopa e o Estadual de 2021 – e um a cada 15 jogos!
Saiu com 59.3% de aproveitamento, justamente porque se perdeu no comando e nas justificativas sobre a queda do trabalho ao ficar sem cinco titulares durante a Copa América.
Não tenho dúvidas de que Renato será campeão no comando do time do Flamengo. Mas isso não o isentará do ônus de ter de vencer sem dar chances aos adversários.