Sem saída
Coluna foi publicada no domingo (28)
Em fevereiro, último, Igor Thiago, centroavante de 22 anos, criado nas divisões de base do Cruzeiro, foi anunciado pelo Brentford, da Premier League, como a mais cara contratação do clube inglês. Vendido pelo Brugge, da Bélgica, por 37 milhões de euros (em torno dos R$ 200 milhões), o atacante nascido na cidade-satélite de Gama, em Brasília, será o primeiro brasileiro do Brentford em 134 anos de história.
Jogador de área, de 1,91m, destro Igor Thiago chamou atenção dos ingleses pelo porte físico e ótima presença de área. Não à toa, fez 27 gols em 50 jogos pelo Brugge (com cinco assistências) em sua primeira e única temporada pelo clube belga.
Em 2022/23, ele já havia marcado outros 20, com sete assistências, jogando pelo Ludogorets, da Bulgária. Está em franca ascensão e a expectativa é de consolidação e valorização na liga inglesa.
Agora, vejam quanto recebe o Cruzeiro nessa negociação: pelo mecanismo de formação, 1,46% - equivalente a quase R$ 3 milhões. O Verê, do Paraná, seu primeiro registro como amador, tem direito a 0,47% (cerca de R$ 1 milhão) e o Ludogorets, que o vendeu no ano passado para o Brugge por 7 milhões de euros, fica com 0,76% (algo em torno de 270 mil euros).
No total, o Cruzeiro terá feito só R$ 10 milhões (1,8 milhões de euros) com o jovem promissor.
E sabem por quê? Porque Thiago foi das primeiras negociações da SAF Cruzeiro, em 2022, com o clube ainda economicamente fragilizado e sem a perspectiva de um futuro melhor para o jogador a curto prazo.
O empresário vem com a proposta, fala da vontade da família e convence os diretores sem muita dificuldade. Duvido que isso se repetiria hoje, com os processos estruturados e as finanças equilibradas pelo grupo presidido por Ronaldo Fenômeno.
Ou seja: clubes economicamente desestruturados terão a cada dia mais dificuldade para sobreviver sem a criação de sua SAF. Não há dinheiro circulante no mercado que não venha das casas de apostas.
E ainda há o temor de que a torneira seja fechada a partir da taxação das Bets, norma a ser aprovada com taxação dos lucros da banca e do apostador. Quando o governo regulamentar o modelo, a realidade será cruel.
Por isso, sem o caixa reforçado, como têm Flamengo e Palmeiras, ou bem resolvido, como é o do Athletico/PR, a criação do modelo de Sociedade Anônima será a única saída para que os clubes possam valorizar suas crias e se manter competitivos. Quem viver, verá.