Relação médico-paciente
A evolução da medicina exige mais que tecnologia: demanda médicos humanos, capazes de escutar, acolher e compreender o paciente além da doença
A medicina vem sofrendo mudanças nas últimas décadas. Isso não é nenhuma novidade. A questão é que os pacientes também mudaram. Antes artesanal, a ciência médica agora é tecnológica.
Os doentes, que no passado confiavam cegamente nos médicos, hoje chegam aos consultórios com informações e vocabulário antes restritos a esses profissionais, quando não apenas para solicitar exames.
Médicos devem estar preparados para essas mudanças, lembrando, porém, que a essência da medicina jamais deve ser abandonada.
A vida biológica acontece no mundo dos fatos naturais. No entanto, a vida humana se move no mundo dos princípios, devendo ser a bússola para as tomadas de atitudes.
Médicos tomam decisões o tempo todo, mas devem seguir aquela que idealmente seria a melhor. De nada valem técnicas e protocolos, se não houver a compreensão da dinâmica médico-paciente, a percepção do invisível e do não dito e, principalmente, se não existir conexão humana.
O médico deve entender que a comunicação é a principal ferramenta da sua profissão. Desenvolvê-la, durante a formação, precisa ser prioridade, não se devendo coloca-la em segundo plano.
Pouco vale ser um exímio conhecedor da arte de Hipócrates, se o doutor não consegue ampliar o olhar de cuidado, além da doença.
Conectar doenças aos doentes faz com que o médico ponha a comunicação como um procedimento.
O competente médico trata a enfermidade, mas o valoroso médico trata o paciente. Sem uma comunicação efetiva, quaisquer processos de cuidado tornam-se fragilizados. Falhas na comunicabilidade repercutem em tratamento tardio, diagnóstico incorreto, erro na medicação, lesão e, até mesmo, morte do paciente.
“Eu não me importo”, “eu sinto muito”, “eu posso imaginar”, “eu quero te ajudar”. Como essas condutas alteram a dinâmica de um tratamento!
Pacientes são os melhores professores dos médicos. Ser simpático é diferente de ser empático. Além disso, não basta ter empatia se, com ela, o profissional não age para o cuidado do paciente. Para isso existe a compaixão.
Infelizmente, o que se vê, muitas vezes, são os comportamentos evasivos. Essa maneira de se portar reflete mais sobre o médico do que sobre o paciente.
Não existe doente complicado. A verdade é que, na maioria das vezes, os cenários de sofrimento é que são difíceis e complexos. Situações acabam se tornando desafios profissionais, e não as pessoas que passam pelas dores, angústias e lutos.
Incompetente na área da comunicação e do acolhimento, o médico pode dar falsas esperanças, omitir informações, ter atitudes defensivas ou transmitir dados por meio de linguagem técnica, traduzindo comportamento clássico de quem não sabe se comunicar, julgando o outro como culpado, sem enxergar a própria falta de habilidade.
Sem tempero humanista, a medicina robotizada resulta numa prática sem sentido, tornando o médico insensível às necessidades do paciente.
Ao compreender o doente, o médico é contemplado com o diagnóstico.
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