O intricado dialeto médico
Confira a coluna desta terça-feira (04)
Há 13 anos, quando comecei a escrever para a coluna “Doutor João Responde”, fui submetido a uma pedagógica arguição pelo ilustre diretor de jornalismo da Rede Tribuna, jornalista João Luiz Caser, que me passou as seguintes orientações:
“Evite causar falta de ar no leitor, usando frases longas”. “Não tente engordar o texto, com excesso de adjetivos”. “A narrativa tem que caber no título”. “Utilize linguagem compreensível a todos”.
Creio que a última frase resume a essência do jornalismo: “Comunicar é se fazer entender”.
O uso de linguagem técnica pode se tornar uma barreira na comunicação entre as pessoas.
Muitos criticam o uso de termos técnicos, pois consideram que eles prejudicam o desenvolvimento da relação médico-paciente. Convém considerar que o médico não deve utilizar seu dialeto no diálogo com o paciente.
Na verdade, o profissional de saúde deve sempre traduzir todas as observações a termos acessíveis ao doente e condizentes com seu nível de instrução.
Cabe ressaltar, entretanto, que a medicina é uma ciência, e, como tal, o método científico pode ser aplicado a essa amálgama de arte e ciência.
Dessa maneira, o uso dos termos adequados acumula conhecimento ao médico, de modo sistemático.
Portanto, é aceitável aplicá-los para melhorar a comunicação com outros profissionais da área.
Desmembrando uma palavra, é possível encontrar não apenas o seu significado, como também a de inúmeros outros termos, abordados na prática médica.
A maioria dos prefixos e sufixos que formam os vocábulos médicos surgiram do grego, latim e árabe.
A palavra “esôfago”, por exemplo, vem de “eso” = cano e “fago” = comer.
Além da linguagem técnica, médicos costumam utilizar jargões, gírias que podem ser mal-interpretados pelos pacientes.
Termos que fazem sentido para os doutores, muitas vezes se perdem na tradução, quando transmitidos a leigos. Muitas pessoas acreditam erroneamente ser uma boa notícia ouvir que um tumor esteja “progredindo” ou uma radiografia de tórax se mostrar “impressionante”.
O sentido médico de certas palavras é exatamente o oposto de seu significado.
Um resultado “positivo” em um teste de rastreamento de câncer, por exemplo, significa que o paciente pode ter câncer. Um resultado “negativo”, portanto, é bom, ou seja, o oposto de como as pessoas usam essas palavras na linguagem cotidiana.
Poucos pacientes percebem que uma radiografia de tórax “impressionante” não é uma boa notícia.
Quando os médicos usam essa frase, eles querem dizer que detectaram algo preocupante. Para o paciente, “impressionante” poderia ser traduzido como admiravelmente saudável.
Profissionais de saúde deveriam ser incentivados a usar o método “ensinar de volta”, onde, no final de uma conversa, eles pedem aos pacientes que digam com suas próprias palavras o que acabaram de ouvir.
Diante do doente, o médico não deveria utilizar palavras que o faz parecer inteligente. Seria pouco inteligente não saber traduzir essa inteligência.