Hospital Santa Rita de Cássia
Artigo publicado na coluna Dr. João Responde, do Jornal A Tribuna
Costumamos nascer, morrer e reviver, dentro de hospitais. Nesses locais, alegria, tristeza e esperança, caminham juntas. Hospital e nosocômio são sinônimos. O primeiro significa “lugar onde se hospedam pessoas”. O segundo quer dizer “tratar os enfermos”.
Acredita-se que os primeiros hospitais tenham surgido em 431 AC, na região da Ásia, onde hoje localiza-se o Sri Lanka. Esses locais tinham como objetivo curar os enfermos, que muitas vezes eram peregrinos. Além de servirem como hospedagem, esses seculares hospitais eram também templos e santuários de cura, frequentados por estudiosos do corpo humano, que contavam com farmácia e jardins de plantas medicinais.
Nos templos egípcios, os doentes eram submetidos a alguns tipos de medicações. Na Grécia Antiga, os pacientes recorriam ao Templo de Esculápio, onde recebiam banhos térmicos, realizavam consultas a oráculos e passavam a noite na expectativa de receber alguma instrução divina, por meio de sonhos.
O cristianismo trouxe uma visão mais humana para o tratamento hospitalar, com atendimento voltado ao acolhimento dos carentes e necessitados. A ideia de cura esteve também muito ligada à religiosidade, à conexão com Deus, o que fica bastante evidente na concepção das “Santa Casa de Misericórdia”.
Esses modelos serviram como inspiração para os hospitais modernos. A criação e o desenvolvimento dos hospitais foram estimulados pelo aprimoramento do aprendizado da medicina e pela evolução das reformas sanitárias.
Viajando através do tempo, desembarcamos em 1970, ano do surgimento do Hospital Santa Rita de Cássia, entidade filantrópica reconhecida como referência em tratamento de câncer, motivo de orgulho para o Estado do Espírito Santo.
No final de janeiro, encaminhei uma paciente com quadro de sangramento intestinal para esse hospital. Através de exame colonoscópico, foi detectado um volumoso pólipo adenomatoso, localizado no canal anal, deixando dúvidas sobre seu caráter maligno.
Antes do procedimento cirúrgico, profissionais prudentes solicitaram minuciosos exames. Após criteriosas avaliações, foi agendada a exérese (remoção por cirurgia) do pólipo.
Minha preocupação alimentava-se da possibilidade de intervenção mutilante, cuja consequência seria a necessidade de colostomia e colocação de bolsa coletora definitiva. A remoção do reto e canal anal implicaria na incontinência do ato evacuatório, necessitando a confecção de um estoma (abertura) no abdômen.
Diante dessa temida possibilidade, decidiu-se pela retirada do pólipo abrindo um campo cirúrgico acima do osso ísquio, visando a preservação das estruturas responsáveis pela evacuação. Senti uma profunda admiração pela sensibilidade e destreza desses cirurgiões competentes, sensatos e humanos.
Galgando os ombros dos médicos antigos é que o médico moderno enxerga a medicina mais longe. Hospital não é lugar de alegria e nem de tristeza, mas de esperança. É nesse espaço interno que o sofrimento convida o médico para ser herói.