Heroicos pacientes colostomizados
Artigo da coluna Dr. João responde, do Jornal A Tribuna
Após despertar de uma cirurgia oncológica, realizada para retirar o intestino grosso, vendo a bolsa de colostomia colada em seu abdômen, o paciente chorou e disse: “Doutor, o senhor salvou meu corpo, mas matou minha alma”.
Colostomia é um procedimento cirúrgico que consiste na extração de uma porção do intestino e abertura de um orifício externo, denominado estoma, cuja finalidade é desviar o trânsito intestinal para o exterior.
Portadores de câncer colorretal, submetidos a este tipo de intervenção, além de ter que se ajustar ao diagnóstico da enfermidade, enfrentam uma série de mudanças decorrentes do estoma, em relação às quais necessita se adaptar.
A presença da colostomia desencadeia sentimentos dolorosos, gerados pela perda de um órgão altamente valorizado. Diante dessa mutilação, o doente sofre perda da autoestima, resultante em alteração da sua imagem corporal.
Pacientes submetidos a esse tipo de intervenção enfrentam cotidianas modificações fisiológicas gastrointestinais, principalmente a perda do controle fecal e da eliminação de gases, complicações relacionadas com a ostomia.
A realização do cuidado com o estoma e com a troca de bolsas são fontes seguidas de preocupação e angústia.
Imagem corporal é definida como sendo o modo como a pessoa sente e pensa sobre seu corpo e sua aparência física. Sentimentos e atitudes relacionadas à imagem formam um conceito corporal que são fundamentais para uma vida social adequada.
O colostomizado apresenta sensações de alienação do próprio corpo, sentindo-se diferente após a cirurgia. Ao observar seu estoma pela primeira vez, o paciente responde com perplexidade, choque, medo e desgosto.
Muitas vezes, o indivíduo tenta manter secreta a sua ostomia. Alguns percebem o afastamento das pessoas, enquanto outros se afastam por se sentirem estigmatizados nas relações sociais.
Diante de uma colostomia, o paciente passa por contínuas reavaliações da realidade. Pensamentos de revolta, raiva, fuga e insegurança, por exemplo, precisam ser substituídos por senso de normalização e resiliência.
O processo de enfrentamento do colostomizado não envolve apenas ter um estoma, mas, sim, conviver com sua presença e implicações, lutando, reagindo, defendendo-se, protegendo-se de cada aspecto ocasionado pela sua condição crônica.
Viver com ostomia significa adaptar-se a um novo contexto, em que algumas coisas terão de serem abandonadas, substituídas ou reduzidas.
A coragem de enfrentar a situação capacita o ostomizado a seguir contra todas as adversidades existentes, tendo como pano de fundo a esperança de um futuro melhor e aceitável.
É imperioso não se deixar morrer, não se entregar, mas praticar um recomeçar diário de pensamentos e ações dirigidas à manutenção da existência.
Ostomias não representam o fim da vida, mas um período em que algo foi feito para salvá-la.
Ao lado do cirurgião, a morte desafia: “A bolsa ou a vida”?
Entregar a existência seria tolice.