Helicobacter Pylori
Antes dessa bactéria ser descoberta, os distúrbios emocionais eram considerados a principal causa de úlcera péptica.
Na década de 1970, época em que eu iniciava o curso de Medicina, não se tratava patologia gástrica utilizando antibióticos.
Quando usados para combater infecções em outros órgãos, o antimicrobiano deveria ser ingerido com o estômago cheio, visando protegê-lo.
Ninguém imaginava que uma bactéria pudesse habitar no estômago. Um ambiente tão ácido tornaria esse local inóspito à vida.
Como pensar em um microrganismo que consegue sobreviver ali? Produzindo e liberando uma substância chamada urease, essa enzima quebra a ureia presente no suco gástrico, transformando-a em amônia e bicarbonato, que vão neutralizar o ambiente ácido, mantido pelo ácido clorídrico existente no suco gástrico.
Em 1982, Robin Warren e Barry Marshall descobriram que as úlceras não eram só provocadas pelo estresse e má alimentação.
Havia uma bactéria que conseguia sobreviver no meio ácido do estômago e que estava por trás da maior parte dos casos.
Foi com espanto que a comunidade científica recebeu então a ideia de que houvesse uma bactéria desconhecida presente na maioria dos estômagos humanos e que, acima de tudo, fosse a principal causa de inflamação gástrica.
Isso transformava as úlceras numa doença tratável com antibióticos.
Robin Warren foi quem descobriu o H. pylori, e que disse que ela estaria associada a um processo inflamatório.
Barry Marshall era um jovem investigador que acreditou na descoberta de Warren e quis ajudá-lo a provar que estava certo.
Agindo de maneira temerária, Marshall decidiu beber um meio de cultura com Helicobacter pylori, adquirindo uma inflamação, que lhe provocava dores e vômitos. Submetido a uma endoscopia, ele conseguiu provar que tinha razão.
Antes dessa bactéria ser descoberta, os distúrbios emocionais eram considerados a principal causa de úlcera péptica.
Atualmente, sabe-se que a Helicobacter pylori é a causa de 90% das úlceras do duodeno e de 80% das úlceras gástricas.
A infecção ocorre quando a bactéria H. pylori infecta o estômago. Isso geralmente acontece durante a infância.
A maioria das pessoas com infecção por H. pylori nunca apresentará quaisquer sinais ou sintomas.
Alguns indivíduos podem nascer com mais resistência aos efeitos nocivos da bactéria.
O H. pylori é geralmente transmitido de pessoa para pessoa através do contato direto com saliva, vômito ou fezes, além de alimentos ou água contaminados.
Existem cepas agressivas dessa bactéria associadas a úlceras e câncer gástrico. Entretanto, na maioria dos casos a infecção é assintomática e não provoca doenças.
Como não é fácil determinar se o paciente está infectado pelas cepas produtoras de toxinas mais prejudiciais à mucosa gástrica, a tendência é tratar todas as pessoas com diagnóstico de H. pylori, principalmente aquelas com histórico de carcinoma de estômago em parentes de primeiro grau.
A ciência exige curiosidade, intuição, persistência e, às vezes, uma simples adivinhação, para que ela mostre seus segredos.