Droga, a recompensa que não compensa
Dr. João Evangelista
O cérebro não nasce pronto. A capacidade de processamento e velocidade dessa “máquina de pensar” será alcançada apenas na segunda década da vida.
O córtex cerebral é a última região que amadurece, acontecendo aos 30 anos.
A área pré-frontal é responsável pela escolha das opções e estratégias comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento emocional.
Essa parte do encéfalo, localizada na região da testa, é responsável pela capacidade de planejar, pensar nas consequências das ações, resolver problemas e controlar os impulsos, sendo a última área do cérebro a ser remodelada.
Como o córtex pré-frontal ainda está em desenvolvimento nos jovens, esses utilizam uma região do cérebro chamada amígdala para tomar decisões e resolver problemas. Como a amígdala está associada a emoções, impulsos, agressões e comportamento instintivo, isso explica muitas das atitudes típicas da juventude, não compreendidas pelos adultos.
Comportamentos narcísicos, comuns na juventude, exigem gratificações imediatas e soluções rápidas, indolores. Muitas vezes, diante das dificuldades com as frustrações, o jovem se encanta com o “paraíso químico”, esquecendo que o cérebro se nutre de prazer e sofrimento.
O sistema límbico é composto por vias neuronais, responsáveis pelas emoções. Uma dessas vias, denominada sistema de recompensa, é importante para manutenção da espécie humana.
Essa região é ativada, por exemplo, quando nos alimentamos e fazemos sexo, comportamentos essenciais para preservação da vida.
A dependência e o abuso de drogas estão relacionados com o sistema de recompensa. Entretanto, a razão pela qual um indivíduo segue utilizando a droga e se torna dependente envolve muito mais que apenas o sistema de recompensa.
Sabe-se que fatores genéticos desempenham um papel importante, estando envolvidos em alterações no sistema de recompensa, tornando o indivíduo mais propenso a uso e abuso de substâncias psicoativas. Meio social, preexistência de doenças psiquiátricas, traumas e situações estressantes também podem aumentar a probabilidade do indivíduo se tornar dependente.
Com o uso repetido da droga, surgem mudanças adaptativas nos sistemas neuronais, como alterações de receptores e transportadores, disfunções na síntese de neurotransmissores e nas conexões neuronais. Essas modificações decorrentes do uso contínuo da droga causam tolerância e dependência.
Tolerância é a necessidade de utilizar uma dose maior para obter os mesmos efeitos obtidos anteriormente, sendo causada pela diminuição da funcionalidade dos alvos primários da droga.
Dependência é o uso compulsivo, que é praticado para evitar o estado de abstinência, caracterizado pela retirada da droga. Nesse período, brotam sintomas opostos ao efeito desejado, convidando a decepção para morar na casa da esperança.
De todas as drogas que alteram o pensamento, a única que faz bem é a verdade.
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