Diante do paciente-problema
Fonte de alegria, orgulho e dores de cabeça, a medicina mostra ao médico o quanto sua profissão é exigente. O conhecimento interminável, as habilidades manuais e a resistência física e emocional são ingredientes necessários para esse profissional aguentar longas horas de trabalho intenso.
Além disso, o médico necessita ser capaz de manejar pessoas e situações complicadas.
A profissão médica exige um certo jogo de cintura e, às vezes, um sentido extra para lidar com pacientes difíceis.
Pessoas reagem de maneiras diferentes a situações estressoras. Cada indivíduo responde de modo diverso, diante do adoecimento.
Ao imergir em um mundo de subjetividade do paciente, o médico, como os demais medicamentos, precisa ser conhecido em sua “posologia”, “reações colaterais” e “toxidade”.
Pessoas com perfil reivindicador, hostil, acusatório, esquivo e autodestrutivo costumam gerar dificuldades ao próprio tratamento. Pacientes com traços de personalidade narcisista, desconfiada ou antissocial são propensos a criar barreiras.
Entretanto, é importante saber que todo comportamento inadequado expressa a dificuldade do indivíduo em lidar com seus próprios problemas.
Quando a consulta não alcança o resultado esperado, e o médico não consegue compreender o que está havendo, a relação de confiança se esfacela. Decepcionado, o doente poliqueixoso acaba exasperando o médico.
Contudo, as características do profissional também influenciam na rotulação de um paciente como “problema”. Inexperiência, maior carga de trabalho, falta de satisfação com a profissão, além da ausência de habilidade de comunicação, estão associados à maior frequência de relatos médicos com enfermos-problema.
Algumas características encontradas, entre os pacientes com comportamento difícil de lidar, são as visitas médicas repetidas, com questões não resolvidas.
Pacientes podem apresentar doenças físicas crônicas, alterações psiquiátricas e problemas sociais concomitantes, não devendo jamais serem subestimados.
O indivíduo que desperta sentimentos de incerteza, irritação, incompetência e frustração com o médico, além de exigências no sentido de que se faça alguma coisa, é, em última instância, alguém precisando de ajuda.
O médico deve acolher as necessidades dos enfermos, contê-las dentro de si um tempo suficiente para entendê-las, e não ficar contaminado pela angústia.
Apesar do avanço tecnológica, a medicina continua sendo uma ciência de incerteza e uma arte de probabilidade. O primeiro degrau para o sucesso do médico é o interesse pelo seu trabalho e a compaixão pelo sofrimento humano.
O curso de medicina deve ser um curso de vida, no qual o estudo de alguns anos é apenas uma preparação.