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Doutor João Responde

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Colunista

Dr. João Evangelista

A epopeia de um paciente

Coluna foi publicada nesta terça-feira (23)

Dr. João Evangelista | 23/04/2024, 10:08 10:08 h | Atualizado em 26/04/2024, 17:45

Imagem ilustrativa da imagem A epopeia de um paciente
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista |  Foto: Arquivo/AT

Assim como existem pessoas saudáveis, que se sentem doentes, há indivíduos doentes, que se sentem saudáveis. Passeando pelo Shopping com a família, minutos depois de ingerir uma pizza na praça de alimentação, José começou a se sentir nauseado e com uma dor intensa no lado direito, debaixo da costela, modificando seu status de pacato cidadão, em preocupado paciente.

“Deve ser algo que eu comi”, justificou José, tentando mostrar serenidade.

Diante de alguma enfermidade que modifica seu cotidiano, o doente não é um mero apanhado de sinais, sintomas, funções alteradas e emoções perturbadas.

Sendo humano, ele tem medo e esperança, busca alívio, auxílio e tranquilização. Encorajado pela esposa, José partiu em busca de socorro, deixando para trás sua modorrenta rotina.

Durante a consulta, inflexões da voz, expressões faciais, gestos e atitudes, apontavam que o quadro de José era coisa séria.

Apesar de saber que um médico experiente geralmente consegue formular um diagnóstico apenas com a anamnese, usando a avaliação física e os exames complementares para descartar hipóteses diagnósticas, solicitei uma ultrassonografia abdominal. A vesícula biliar de José contraía a parede, sem êxito, tentando expulsar um volumoso cálculo encravado na saída. Obstrução, má circulação, edema e posterior invasão microbiana, fizeram surgir um processo infeccioso.

Em tempo hábil, foi detectado um quadro de colecistite aguda, evocando urgência, indicando cirurgia imediata. Acompanhado de profunda ansiedade, José foi internado, medicado contra dor e vômitos, sendo operado.

Infelizmente, surgiram algumas complicações e ele teve que ser transferido para uma unidade de terapia intensiva.

Assustado com aquele ambiente intimidador, cercado por médicos, enfermeiros, aparelhos de oxigênio, eletrocardiógrafos, botões e luzes reluzentes, invadido por fios e tubos, José sentiu-se sozinho e desamparado.

A despeito da importância da medicina técnica, baseada em evidências, é imperioso enfatizar que o segredo do cuidado ao doente está em cuidar do ser humano. Pacientes são indivíduos com problemas, que quase sempre transcendem suas queixas físicas.

Medicina é uma arte estimulante e ansiogênica. Médicos podem aplicar o conhecimento em constante expansão, no tratamento de seus pacientes, embora percebam que nunca saberão tanto quanto querem ou precisam saber.

Contando com as louváveis habilidades dos intensivistas, auxiliado pelo tempo necessário para que a vida continue amando o corpo e aguardando a tão desejada resposta do sistema imunológico, José teve alta e voltou para casa, seu desejo mais profundo. Demonstrando empatia, os médicos vestiram a roupa do paciente.

Como a saúde não apresenta sintomas, necessitamos da doença para lembrar seu inestimável valor.

De volta ao consultório, José mostrava-se gratificado, abrigado pelo aconchegante manto do cotidiano.

Saúde e paz são para o ser humano o que o sol e o ar são para as plantas.

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