Harry e a família real britânica
Artigo publicado na coluna Claudia Matarazzo, do Jornal A Tribuna
O mundo pode estar em guerra, o Brasil mudou o governo, o dólar cai e o mercado reclama, mas quando se trata da Família Real Britânica (quase) todos querem ver e ouvir a opinião de especialistas e fofocar com os amigos. Sabendo disso, Harry, o caçula encapetado do Rei Charles III e Diana, amarrou um belo contrato ao livro “Spare”, que acaba de sair.
Tenho opinião formada e jurei que não ia falar sobre isso. Mas tanta gente pergunta que, agora, lerei o livro para poder falar com mais segurança, masssss... há coisas que as confissões lacrimosas no livro mudarão minha jurássica opinião. Vamos a elas.
Se Harry não tivesse sido criado para respeitar seu legado familiar e tradições seria apenas um fraco de personalidade, que não soube administrar o sofrimento da perda da mãe. (Nem os privilégios concedidos por nascimento etc).
Responsabilidade como pessoa – Quem nasce no privilégio, com dinheiro, família e influência como é o seu caso, tem responsabilidades. E isso vale para donos de terras, filhos de grandes industriais, e os simplesmente muito ricos – que tem obrigação de fazer a sua parte para agregar e ajudar a melhorar o mundo. Questão de equilíbrio cósmico. E justiça mesmo.
Dores x exposição – Sem essa “coitadinho nunca superou a perda da mãe.” Para isso existem terapeutas, amigos, e o tempo que atenua um pouco. Aliás, como ficam os milhares de pobres anônimos que perdem as mães e ainda criam irmãos, pois o pai muitas vezes não está perto?
Pai padrasto ou família terrível – Agora deram de falar isso, pois tantas coisas vieram à tona – algumas provavelmente verdeiras. Bem-vindo ao clube Harry! Famílias perfeitas, de perto, são raras. E nem por isso seus membros saem chorando em público ou procuram faturar com isso.
O fato de ser quem é e ainda assim expor – sem deixar de cobrar muito bem – toda a família, o torna um gigolô das massas. Seu tio-avô, o famoso Duque de Windsor, que abdicou do trono por amor, também não aguentou o tranco de não estar mais nos holofotes e vendeu-se aos franceses fazendo presenças VIP até sua morte.
Pior, no auge da Segunda Guerra, enquanto seus conterrâneos davam a vida para combater o nazismo, ele, literalmente, desfilava na Alemanha, país inimigo - ao lado de ninguém menos que Adolf Hitler, com direito a acenos para as câmeras.
Voltando a Harry: independente de ter sofrido, não ter escolhido nascer príncipe, ele teve escolhas – e muitas!
E usa seu privilégio, não para construir algo, mas da pior maneira possível; mostrando não fragilidade, mas fraqueza; não firmeza na escolha, mas egoísmo; não criatividade, mas mesquinharia da pior espécie ao vender seus sentimentos, atingindo a família que lhe proporcionou todas essas possibilidades.
Não tenho pena. Nenhuma. Não cresceu, mas pior que isso, é mau-caráter mesmo.
Não li o livro e prometo ler para voltar com o segundo episódio da saga. Mas pensem: uma pessoa comum com esse histórico de “trairagem” e “mimimi”, vocês achariam admirável ou apenas mais um mala?