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Claudia Matarazzo

Claudia Matarazzo

Colunista

Claudia Matarazzo

Danem-se artistas e músicos!

| 03/09/2020, 08:52 08:52 h | Atualizado em 03/09/2020, 08:55

Sabem quem foi Victor Herbert? Eu não sabia até me deparar com a coluna de Ruy Castro, que, sei, me permite reproduzir aqui parte dela.

Victor Herbert foi um compositor (1859 a 1924) que compunha, entre outras coisas, valsas românticas e muito populares no pós-primeira grande guerra.

Morava em Nova Iorque (EUA) e, um dia, almoçando no Shanley’s, um restaurante bacana e “da moda”, ouviu suas composições serem tocadas para deleite de todos os clientes ali, inclusive ele mesmo.

Pagou a conta, procurou o gerente e perguntou se a música estava embutida no valor cobrado pelo lugar e se atraía muita gente. Ao ouvir que sim, saiu direto para o escritório de um advogado onde começou um processo – que duraria quatro anos – contra o Shanley’s.

Não apenas ganhou a causa, como, graças a essa sua atitude, firmou-se uma jurisprudência que levou os EUA (e, mais tarde, o resto do mundo) a criar uma sociedade obrigando o pagamento de direitos autorais pelo uso da música em restaurantes, hotéis e similares.

Mais uma boiada – Essa atribuição no Brasil cabe, historicamente, ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) e, graças a isso, nesse momento de pandemia e quando 99% dos 383 mil músicos filiados ao Ecad estão parados, impossibilitados de trabalhar ao vivo, eles continuam arrecadando uma ajuda de custo.

Em alguns casos, pouco tem adiantado, uma vez que, cada vez mais, sabemos de músicos rifando seus instrumentos para pagar contas e evitar despejo, etc. Situação tristíssima.

Ora, nesse momento dificílimo, de pandemia, representantes do lobby hoteleiro procuram deputados que aceitem aprovar, em regime de urgência, um projeto para livrar hotéis do Brasil desse pagamento!

Hotéis quebrados – Essas pessoas alegam que os estabelecimentos estão quebrados com a pandemia. Acredito.

O que não dá para acreditar é que os valores de R$ 0,35 a R$ 0,60 que recebe um músico por sua música tocada fora do palco, possa salvar um 5 estrelas de fechar as portas.

Afinal, são dois milhões de leitos em todo o País. Basta fazer a conta, por baixo.

Ora, um artista de alguns sucessos gravados recebe algo em torno de R$ 500 por mês. Já um artista de sucesso mediano, algo como R$ 200 – para eles, uma ajuda preciosa.

Já para os hotéis, sem fazer conta no bolso de ninguém – já fazendo –, se não forem capazes de enxugar esse valor de algum outro item supérfluo de sua administração/rotina, merecem fechar as portas mesmo.

Por que não desligam o som? Mais fácil do que essa batalha toda, certo?

Mas aí está a perversidade cínica desse lobby: porque sem música, a hospitalidade e o prazer se acabam – de nada adiantaria luxo, boa comida, etc., em meio a um lúgubre silêncio.

Nada tenho contra a rede e o pessoal dos hotéis (apenas contra raciocínios canalhas). Porém, entre eles e a música – e seus criadores –, eu fico com essa última: alimento da alma, linguagem universal, atemporal e eterna e que, para existir, sempre dependeu de seres especiais, divinos e desapegados.

Mas seres que, para compor música com a qual possamos nos deleitar, também precisam pagar as suas contas.

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