Nem toda confusão mental em idoso é sinal de Alzheimer, diz neurologista
Dificuldades corriqueiras e pequenos esquecimentos frequentemente são associados ao Alzheimer, especialmente em idosos. Entretanto, nem sempre esses achados são indicativos da doença.
Quadros agudos de desorientação e confusão mental podem estar associados a outros fatores, como distúrbios metabólicos, baixos níveis de sódio e infecções. Outras possíveis causas são deficiência de hormônios tireoideanos e de vitaminas B12 e B9.
A manifestação dos sintomas também ocorre de forma distinta, explica o médico neurologista José Antonio Fiorot Júnior.
No caso da doença de Alzheimer, há prejuízo na autonomia e comprometimento da independência funcional do paciente. A instalação leva de meses a anos, enquanto são horas a dias em quadros de confusão mental.
Em entrevista ao AT em Família, o neurologista explicou ainda outros aspectos que diferenciam essas condições clínicas e orientou sobre a conduta adequada ao lidar com pacientes.
No Brasil, há mais de 29 milhões de pessoas acima dos 60 anos, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Acredita-se que quase 2 milhões de pessoas sofrem de demências, sendo que cerca de 40% a 60% delas são do tipo Alzheimer.
ENTREVISTA | José Antonio Fiorot Júnior, médico neurologista
AT em Família– A confusão mental é natural durante o processo de envelhecimento?
José Antonio Fiorot Júnior – Sim. Ao envelhecermos, é comum passarmos a ter pequenas dificuldades com tarefas do dia a dia. Também é comum ter mais dificuldade com memórias corriqueiras. Isto não quer dizer que é sempre doença de Alzheimer.
Como identificar que a pessoa está com confusão mental?
Há diferença entre confusão mental e demência. Confusão mental (ou deliruim) é um estado confusional agudo, em que há instalação rápida, de poucas horas a dias.
Quando não é Alzheimer, quais são as possíveis causas?
Quase sempre a confusão mental é causada por infecções (como infecção de urina), distúrbios metabólicos (como diabetes descontrolado) ou distúrbios eletrolíticos (sódio baixo). Na maioria das vezes, ela é revertida, uma vez tratada a causa de base.
O que diferencia o Alzheimer de quadros de confusão mental?
Não pode ser considerado Alzheimer enquanto não houver comprometimento da independência funcional. Nesses casos, chamamos de transtorno cognitivo leve.
Pequenas dificuldades e pequenos esquecimentos não são suficientes para o diagnóstico e o início do tratamento de Alzheimer. Além disso, a idade habitual de diagnóstico de Alzheimer é acima de 60 anos. A confusão mental pode ocorrer em qualquer idade.
Quanto à reversão dos sintomas, o Alzheimer é uma doença progressiva, de evolução inexorável. Já o quadro de confusão mental tem melhora completa com tratamento da causa de base.
Esse tipo de problema afeta apenas idosos ou também pacientes mais jovens?
Em pacientes mais jovens, as causas de pequenas dificuldades de memória são mais associadas a transtornos psiquiátricos, como ansiedade e depressão, que atrapalham a atenção e consequentemente a memória. Também pode ter a ver com falta de hormônios (tireoide) e vitaminas B12 e B9.
Como lidar com um idoso nesse estado?
Idosos com confusão mental precisam ser avaliados de urgência, preferencialmente em um pronto atendimento, para realizar alguns exames que afastem infecções, distúrbios metabólicos ou distúrbios eletrolíticos.
Se possível, deve-se fazer ao menos uma tomografia de crânio para afastar uma lesão cerebral de urgência.
Idosos com Alzheimer podem ser avaliados ambulatorialmente, preferencialmente por um médico neurologista e/ou médico geriatra.