Que tal experimentar um café feito por um robô?
Projeto no ES treina robô humanoide para realizar tarefas complexas, começando pela preparação de uma xícara de café

Em terras capixabas, a Inteligência Artificial pode estar prestes a ganhar aroma de café passado na hora. O robô humanoide Prometheus está sendo treinado para executar uma tarefa que, para os humanos, parece simples — mas, para uma máquina, é um verdadeiro desafio: preparar uma xícara de café “de verdade” de forma totalmente autônoma.
Nada de cápsulas ou botões fáceis. A missão do Prometheus é realizar cada etapa com precisão: ferver a água, posicionar o coador, encaixar o filtro, medir o pó, despejar a água na quantidade certa, esperar o café passar, fechar a garrafa e servir. E, acredite, a comunicação entre o ser humano e o robô será por comando de voz.
Quem explica melhor sobre essa tecnologia é Alberto Ferreira, professor do Departamento de Informática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), coordenador do projeto. A previsão é se concretizar em meados de 2026.
“O Instituto de Inteligência Computacional Aplicada (I2CA), do governo do Estado, tem como um dos seus principais objetivos desenvolver o que chamamos de Inteligências Computacionais Autônomas. O Laboratório de Computação de Alto Desempenho da Ufes é membro do I2CA e é nele que está sendo desenvolvido o Prometheus, nosso robô autônomo”.
O robô, adquirido neste ano, foi concebido para ser uma plataforma de pesquisa e desenvolvimento dessas Inteligências Computacionais Autônomas – semelhantes, em conceito, àquelas apresentadas por empresas como a que desenvolveu o Figure 03.
Ele explica que parece algo trivial, mas do ponto de vista de um robô, é uma tarefa extremamente complexa, que envolve percepção, manipulação precisa e planejamento. “É exatamente isso que buscamos desenvolver, uma inteligência computacional autônoma capaz de realizar, com segurança e precisão, tarefas cotidianas em ambientes não estruturados”.
Ricardo Carminati de Mello, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Ufes, reforça que assim como o Figure, a proposta do Prometheus é alcançar a chamada IA de uso geral, que seria uma Inteligência Artificial capaz de atuar em qualquer tarefa, seja em casa, no comércio ou na indústria.
“Esse tipo de robô precisa conseguir entender as complexidades e particularidades do nosso mundo. Além disso, um conceito-chave é a capacidade desses robôs de conviver conosco, de interagir e colaborar. O robô não pode ser algo separado do ser humano, ele lá e a gente cá. Ele tem que conseguir se integrar de forma a ser útil, conseguir colaborar com a gente e ter uma influência positiva no nosso dia a dia”.
Meados de 2026
“O objetivo, que já vem sendo perseguido há alguns anos e que esperamos concretizar até meados do próximo ano, é fazer com que o Prometheus seja capaz de preparar uma xícara de café de forma totalmente autônoma, em um ambiente doméstico usual.”
Alberto Ferreira, professor do Departamento de Informática da Ufes, coordenador do projeto
Novos conhecimentos
“A pesquisa com o Prometheus coloca a Ufes e o Espírito Santo na borda do conhecimento científico, pois cada integração, cada nova capacidade do robô, além de muito trabalho, demanda a criação de novos conhecimentos. Isso impacta o ambiente de pesquisa local e também a formação dos pesquisadores capixabas e dos nossos alunos”.
Ricardo Carminati de Mello, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da Ufes
Máquinas vão levar até 30 anos para chegar às casas
O futuro chegou, mas a presença dos robôs humanoides nos lares dos brasileiros vai demorar. Doutor em Robótica, o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Ufes, Fransérgio Leite da Cunha, estima que isso pode acontecer entre 25 a 30 anos.
“Esses robôs foram lançados agora, são caríssimos e precisam passar por várias etapas até poderem ser comercializados no Brasil. Há um caminho burocrático: aprovação em órgãos como a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), regulamentações de segurança e até questões legais sobre quem seria responsabilizado diante de um acidente doméstico”.
E comparou. “Eu vi o primeiro robô aspirador de pó em 2000, numa feira de robótica em São Paulo. Só depois de mais de 20 anos é que ele se popularizou por aqui. Imagine um robô humanoide”.
Ele acredita que os robôs humanoides devem surgir primeiro em áreas como segurança, apoio a pessoas com deficiência (PCDs) e assistência a quem tem mobilidade reduzida, como idosos.

Para Alberto Ferreira, professor do Departamento de Informática da Ufes, inicialmente o custo deve ser semelhante ao de um “bom” automóvel. “Mas, em cerca de cinco a 10 anos, é provável que vejamos robôs domésticos com preços acessíveis.”
Dayvson Silva, coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto Senai de Tecnologia em Eficiência Operacional do Estado, destaca que setores que requerem grande volume de mão de obra para a realização de trabalhos manuais e repetitivos tendem a migrar para soluções que utilizem humanoides.
“A indústria de transformação e a agroindústria receberão implementações customizadas à medida que empresas de base tecnológica passem a ofertar esses serviços no Brasil”.
No Estado, o Instituto Senai de Tecnologia atua no desenvolvimento de soluções que apoiam as empresas em seus roadmaps de eficiência operacional, integrando robotização e IA, e no desenvolvimento de máquinas e processos.
No Espírito Santo
Prometheus: experimento
- O Prometheus é baseado no robô comercial G1, da fabricante chinesa Unitree, e recebeu esse nome no Instituto de Inteligência Computacional Aplicada (I2CA), do governo do Estado, para significar a integração da IA com um corpo.
- A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e a ArcelorMittal fazem parte do I2CA.
- O Prometheus é um robô com diversas articulações, tem pernas, braços e mãos, como uma pessoa, e diversos sensores que o permitem entender o mundo ao redor.
- Esse tipo de robô, assim como o Figure 03, permite que a Inteligência Artificial não seja algo confinado ao computador, mas que possa de fato agir no mundo real, que possa manipular objetos e realizar as mesmas tarefas que uma pessoa é capaz.
Desafios
- Um dos desafios é o robô ser capaz de interpretar sozinho uma cozinha e fazer um café, considerando as diversas possibilidades de se fazer um café. O experimento conta com a participação de pesquisadores e alunos da Ufes.
Autonomia
- A autonomia do Prometheus advêm da Inteligência Computacional Autônoma. Trata-se da integração entre hardware e software inteligentes: o hardware fornece sensores e atuadores, enquanto o software implementa a inteligência.
- Juntos, eles formam sistemas capazes de interagir não apenas com os humanos, mas também com o mundo ao redor.
Fonte: Especialistas, G1 e pesquisa AT.
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