Vetar celular na hora da refeição fortalece vínculos
Especialistas destacam que refeições sem telas favorecem o diálogo e a alimentação consciente
Prato, garfo, faca e um elemento que virou quase um acessório durante as refeições: o celular. Se no passado a televisão era a companheira da hora do almoço ou jantar, agora o celular ocupou essa posição em quase – ou todas – as refeições.
Só que comer na companhia do celular pode aumentar em até 15% a ingestão de calorias, segundo estudo realizado pela Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Lavras (FCS/UFLA) com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Por isso, e até mesmo para o fortalecimento de vínculos, a recomendação de especialistas é vetar o aparelho na hora da comida.
A nutricionista clínica-esportiva e materno-infantil Danielle Laporte aponta que o comer em família, quando feito sem distrações como televisão e celulares, promove uma alimentação mais consciente, melhorando a mastigação, a digestão e a percepção de saciedade.
Para a psicanalista Lara de Moyses Moura é importante que, desde a infância, se tenha consciência sobre a comida, o gosto, a textura, a temperatura e que se saiba a porção que se coloca no prato.
“Durante as refeições, as telas impedem que todos esses sentidos compareçam, porque a atenção já não está mais na alimentação, mas no que está sendo visto. Considerando a mesa um potencial promovedor de diálogos entre os familiares, com o uso das telas também não há comunicação, não há interação, nem com os pares e nem com a comida”.
A psicóloga e neuropsicóloga Lícia Assbu aponta que as telas desviam a atenção, reduzem o contato visual, interrompem o ciclo de trocas afetivas e conversas espontâneas e enfraquecem o vínculo.
“Além disso, prejudicam até a percepção de saciedade, pois o cérebro deixa de registrar plenamente o ato de comer”.
A nutricionista Larice Matos alerta para o fato de que comer com a tela e com pressa pode resultar em excesso de peso.
“O ato de comer com calma e presença contribui para secreção de enzimas digestivas importantes para a absorção e digestão. Comer com tela faz o indivíduo perder a noção de tempo e quantidade, comendo de qualquer jeito e literalmente engolindo a comida”, explicou.
Café da manhã
Escola das crianças e trabalho estão entre as atividades do dia a dia que, muitas vezes, impedem a artesã Aline Oliveira, 32, e o servidor público Thiago Costa, 34, de fazerem as refeições com os filhos Luiza, 15, Pedro, 11, e Lívia, 8, durante a semana.
Mas o casal – que não abre mão de aos finais de semana estar à mesa com os filhos – descobriu uma forma de fortalecer a união. Todos os dias, depois de Thiago deixar as crianças na escola, eles separam um momento para tomarem café juntos, à mesa.
“Antes mesmo de termos uma mesa, já fazíamos as refeições juntos, no sofá. Mas lembro que uma vez ouvi um pastor dizendo que o móvel mais importante da casa era a mesa. Agora, quando estamos todos juntos, é expressamente proibido comer no sofá”, conta Aline.
“O próprio Jesus priorizou estar à mesa”
Aos 42 anos, a pastora Renata Carvalho já foi advogada, professora universitária e empresária. Casada com o empresário Gilson Júnior, 51, eles são pais dos estudantes Eduarda, 17, e Samuel, 12. Renata conta que com a demanda que tinha em sua carreira muitas vezes não conseguia fazer as refeições em família.
“Mas aprendi que o próprio Jesus priorizou estar à mesa e tratou de assuntos importantes nela. Estar à mesa cria laços afetivos, melhora a comunicação, cria memórias saudáveis. É um momento que temos de resgatar esses laços e de nos interessarmos pela vida do outro. O tempo é a moeda mais preciosa que nós temos. E temos de escolher o que terá prioridade e eu escolhi e não abro mão de, na hora do almoço, estarmos juntos”, conta Renata.
Na casa de Renata o celular é vetado durante as refeições em família. “Com a era da ditadura do celular, as pessoas não têm tempo e nem interesse em cultivar relacionamentos. Se nós, os pais, não tivermos a iniciativa de deixar um pouco o mundo digital e trazer os filhos para sentar à mesa e falar sobre a vida e rotina deles, eles não terão essa iniciativa”. afirma a pastora.
Fique por dentro
Estratégias que podem ajudar as famílias
Para as famílias com rotinas intensas durante a semana, que impossibilitam a realização de refeições em conjunto, algumas estratégias, sugeridas pela psicóloga, neuropsicóloga e escritora Lícia Assbu, podem ajudar.
1. Ritual
Defina um ritual fixo (como o almoço ou jantar de domingo, ou o café da manhã de sábado), transformando-o num momento de reencontro.
2. Tempo
Valorize a qualidade do tempo, mesmo que sejam poucos minutos. O que importa é a presença real, aproveitar o momento e ter total desconexão de telas.
3. Participação
Tente envolver todos da família no preparo: cozinhar juntos também ativa memórias afetivas e fortalece o vínculo.
4. Tradições
Resgate tradições familiares: receitas, pratos tradicionais da família, histórias e músicas da infância ajudam a manter o sentido de continuidade e afeto. O simples ato de cozinhar ou dividir uma receita pode se tornar um espaço terapêutico e de reconexão emocional.
5. Sem telas
Deixe o celular fora da mesa e combine que aquele é um tempo de convivência.
6. Escuta
Transforme a refeição em um momento de escuta, com perguntas simples como: “Como foi o seu dia?”; “O que aconteceu de melhor hoje?”; “Qual foi o ponto de maior dificuldade no dia?”; “Quais emoções ocorreram durante esse dia?”.
Fonte: Psicóloga Lícia Assbu.
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