Um Natal para comemorar a vida
Pacientes que passaram por graves problemas de saúde há um ano celebram agora a recuperação ao lado de amigos e familiares
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Há um ano, o Natal de José Luís de Castro Freitas, 47 anos, e de Desirée Lima de Almeida, 41, estava sendo bem diferente. Os dois estavam lidando com problemas de saúde. Mas, neste Natal, eles estão comemorando a vida!
Desirée estava hospitalizada, “presa ao próprio corpo”, lidando com uma doença rara e grave. Já José Luís, que está sem trabalhar no momento, enfrentava as sessões de hemodiálise, à espera de um novo rim.
O milagre de José Luís veio de dentro de sua própria casa. A esposa, a vendedora Renata Aparecida Oliveira da Silva Castro, 46 anos, foi sua doadora. Ao lado das filhas, Ana Luisa, 16, e Helena, 9, José Luís comemora a oportunidade de ter mais qualidade de vida com o órgão doado pela esposa. Seu grande presente, além de estar com a família, é poder beber água.
O Natal deste ano para Desirée é de renascimento. Ela teve botulismo e precisou ficar internada quase sete meses. Em setembro de 2023, a professora aposentada percebeu que estava com a visão turva e foi ao médico.
No hospital, enquanto aguardava a realização de exames, Desirée teve uma parada cardíaca de oito minutos. A professora foi internada e, após alguns dias, a sedação foi retirada, mas ela não acordava.
“Eu não dava nenhum sinal com o meu corpo, mas a minha mente se mostrou ativa nos exames. Eu estava neste plano, apesar de não me mover de forma alguma. Tudo em mim paralisou: face, pescoço, tronco, mãos e pés”, conta.
Desirée não conseguia sequer abrir os olhos. Seu quadro foi classificado pela medicina como “síndrome do encarceramento”.
“Lembro que minha irmã estava comigo e rezava com um primo meu. Era como se eu visse a cena fora do meu corpo. Tudo foi progressivo. Quando viram que eu estava ali, eles começaram a abrir meus olhos para eu enxergar”, contou.
“Vejo um milagre a cada dia” — Desirée Lima vítima de botulismo
A Tribuna - Quando começou a se sentir mal? Foi repentino?
Desirée Lima - Na realidade, não tenho lembrança desse dia. Mas nesse dia, sairia com meu irmão, então, quando comecei a me sentir mal, liguei para ele e ele veio até a mim.
Como estava sentindo a vista turva, fomos ao oftalmologista. Só que lá, eu tive uma mudança de voz. Meu irmão desconfiou que fosse algo neurológico e fomos para a emergência. Houve um momento que não conseguia falar e comecei a babar. Foi então que tive uma parada cardíaca.
Você entrou em coma?
Isso, induzido. Mas quando eles tentaram tirar a medicação eu não voltava. Acredito que durou mais de quatro dias. Tinha uma irmã em Portugal que teve de voltar, porque eu estava desenganada. Os médicos acreditavam que poderia estar com botulismo ou síndrome de Guillain-Barré. A médica que me acompanhou, Polyana Gitirana, do Vitória Apart Hospital, apostou que fosse botulismo.
Como era sua comunicação?
Eu conseguia me comunicar de forma limitada, “falava” com os movimentos dos dedos para formar palavras. Tudo foi progressivo. Falar foi difícil, andar, mas respirar era angustiante. Eu pedia para as pessoas me falarem como respirar.
E como será o Natal para você este ano?
Vejo um milagre a cada dia. Realmente toda experiência é motivo de esperança e reflexão. Agora, com essa possibilidade de estar viva e andando, vou passar esta data com minha família, meus irmãos, minha cunhada e minha avó de 94 anos.
“Foi como se Deus falasse comigo” — José Luís de Castro Freitas, que passou por transplante de rim
Aos 47 anos, José Luís de Castro Freitas só tem motivos para comemorar. Após mais de três anos de hemodiálise, em que precisava realizar as sessões três vezes na semana, neste ano ele poderá, enfim, viajar com a família.
Após o transplante de rim, em que sua esposa, a vendedora Renata Aparecida Oliveira da Silva Castro, 46, foi sua doadora, o Natal tem ainda mais significado para a família.
A Tribuna - Qual era a doença que te levou ao transplante de rim?
José Luís - A minha doença é a doença renal policística. É hereditária, vinda da família da minha mãe, que tem essa doença. Inclusive, tenho primos que transplantaram. Em 2021, eu passei mal em casa, tive uma crise renal e precisei iniciar a hemodiálise, feita três vezes por semana. Desde que comecei a hemodiálise, foi oferecido a mim ir para a fila do transplante.
Como surgiu a sua esposa nessa história?
A clínica que eu estava me encaminhou para um centro de transplante. Chega um tempo em que o centro pergunta ao paciente se há algum doador vivo que gostaria de fazer a doação do órgão. Quando foi no final de 2023, eles me perguntaram, e minha esposa já tinha falado que doaria.
Você não tem irmãos que poderiam doar?
Eu tenho uma irmã, mas ela fez o transplante sete dias antes de mim. A doença, no caso dela, atingiu o fígado. Então, minha esposa fez os exames para saber se tinha compatibilidade. No final de dezembro descobrimos a compatibilidade.
O engraçado é que li uma reportagem em A Tribuna de um casal em que a esposa tinha doado o rim para o marido. Assim como eu e a Renata, eles também estavam juntos há 24 anos.
Vi na matéria que ele tinha feito o transplante pelo Hospital Evangélico de Vila Velha, e isso me fez querer fazer meu transplante lá, foi como se Deus falasse comigo. Em julho fiz o transplante.
E neste ano, qual o significado o Natal terá para você?
A minha qualidade de vida depois do transplante está muito melhor. Meu Natal será de muita gratidão a Deus pela liberdade. Sei que a manutenção desse transplante depende muito de mim.
Tenho gratidão a Deus por ter me dado a minha esposa. Vou poder celebrar o nascimento de Jesus com uma vida nova. Celebrar um Deus que veio ao nosso encontro. Deus foi e é fiel a nós.
Vou poder viajar e ver minha família, além de poder beber água. Eu tinha a restrição de tomar um litro de água por dia. Nesse calor, era muito difícil. Quando o médico me disse, após o transplante, que poderia beber três litros, foi muita alegria.
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