Solidariedade salva vida de menina de dois anos
Hellena Pereira foi diagnosticada com uma doença grave e precisava de um transplante de fígado para sobreviver
Escute essa reportagem
Aos 2 anos, hoje a pequena Hellena Pereira de Souza pode finalmente sorrir, correr e experimentar coisas simples da vida, como brincar em um parquinho e pisar descalça na areia.
Mas a história da menina, que nasceu com uma doença grave (colestase intra-hepática familiar progressiva) e que só tinha o transplante de fígado como opção para continuar a viver, mudou com um gesto de amor. A solidariedade veio de alguém que nem a conhecia.
Dois meses após ter doado parte do fígado para Hellena, a nutricionista Regiane Rossi Heringer, de 33 anos, contou que a história entre as duas famílias só pode ser explicada como um chamado de Deus.
“Eu saí de casa um dia para fazer minha unha, sem agendar. Enquanto fazia a unha, escutei outra cliente contar para a dona do salão a história de Hellena, que precisava de um transplante de fígado”.
Na hora, segundo Regiane, foi o nome Hellena que fez com que ela prestasse atenção no assunto.
“Esse era o nome que sempre disse que escolheria se tivesse uma filha. Tenho um filho, com a mesma idade de Hellena, então continuei a ouvir a mulher. Ela comentou que precisavam de um doador com sangue O+ e era o meu”.
Leia mais em:
Preço dos medicamentos deve ter reajuste duplo em 2023
11° edição Seminário Unidos em Família da ICM
Segundo Regiane, ao chegar em casa, se sentiu mal, pois sabia que tinha de fazer algo. “Chorei a noite toda. Senti que ela estava contando a história para mim, pois eu poderia ajudar”.
Ao acordar, a nutricionista contou ao marido e resolveu que faria a doação. “Liguei para a dona do salão, que era uma amiga, e pedi que falasse com a família”.
Depois de quase um ano de preparação, que incluiu Regiane ter de perder 15 quilos, além de muitos exames e consultas, a cirurgia de Hellena foi realizada em novembro do ano passado, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Para ela, que nunca se questionou da decisão, ver Hellena sorrir novamente faz tudo valer a pena.
“Quando a conheci, era uma criança que não sorria, tinha a barriga muito inchada, olhos amarelinhos, dificuldade em se alimentar e muitas coceiras pelo corpo. Faria tudo de novo, se precisasse, para vê-la brincar”.
Descoberta após nascimento
Após o nascimento, a coloração amarelada da pele e nos olhos já indicava que Hellena Pereira de Souza, 2, precisava de cuidados.
A bisavó de Helena, a dona de casa Marlene Pereira de Souza, 55 anos, que acompanha desde o início todo o tratamento da criança, contou que, após vários exames, um ultrassom apontou uma cirrose hepática. “Ela ficou dois meses internada na época”.
Mas Marlene relatou que os problemas se complicaram. “Com o tempo, ela não conseguia se alimentar, pois a barriga inchava. Ela se coçava o tempo inteiro. O médico falou que a única chance para ela era um transplante, e que teria de ir para São Paulo”.
Hellena foi incluída no projeto Transplantar, do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Pelo programa, ela recebeu o atendimento da equipe multidisciplinar do Hospital Sírio-Libanês.
O médico Eduardo Antunes da Fonseca, coordenador médico da equipe de transplante de fígado do hospital, explicou que Hellena nasceu com a doença colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC). “Ela acomete o fígado e se agrava progressivamente. Geralmente, a criança é desnutrida, com alto risco de infecções graves e de sangramentos digestivos”.
A enfermeira-coordenadora de transplantes do Sírio- Libanês, Amanda Angrisani, explicou que, no caso de transplantes intervivos, como foi o de Hellena, a doadora tem 30% do seu fígado retirado.
Ela explicou, ainda, que a pessoa transplantada consegue ter uma vida normal, desde que tenha bons hábitos e tome medicações imunossupressoras, para que o organismo não rejeite o órgão.
“Essa era a minha missão”
Além de uma cicatriz de mais de 20 centímetros no abdômen e uma parte do fígado, a nutricionista Regiane Rossi Heringer e a pequena Hellena Pereira de Souza hoje compartilham um laço que vai ficar para a vida.
A Tribuna - Como soube da Hellena?
Regiane Rossi Heringer - Foi em novembro de 2021. Fui em um salão. Quando eu cheguei, a Lena (Marlene) estava contando a história da bisneta.
Como foi o processo da cirurgia?
Foi quase um ano até o transplante. Tudo foi feito pela equipe do Sírio-Libanês, em São Paulo. Tive de ir a quatro consultas lá. Tive de emagrecer 15 quilos para operar, tudo acompanhado pela equipe. Lembro que, na primeira consulta com o cirurgião, ele perguntou se eu estava certa do procedimento e disse que eu era a última chance para Hellena.
Em algum momento duvidou do estava fazendo?
Nunca tive dúvidas. Passei um mês no pós-operatório em São Paulo. Meu filho (de 2 anos) ficou com meu marido e minha sogra foi como minha acompanhante. Ficamos em uma casa de apoio. Tudo pelo SUS e todos ajudaram. Trabalhei em home office quando estava fora. Só de olhar para Hellena hoje, tudo vale a pena.
Você a conheceu antes?
Sim. Ela já estava apenas com 18% do fígado funcionando. Era sempre com os olhos muito amarelos, barriga inchada, sempre abatida. Três dias antes da cirurgia, ela teve complicação grave, com várias hemorragias. Foi para a UTI, onde recebeu oito bolsas de sangue. Eu já estava em São Paulo, a cirurgia seria em poucos dias. Foi um milagre!
Como foi a cirurgia?
Eu, que tive filho em um parto normal, pois sempre tive medo de cirurgia e de anestesia, entrei no dia do transplante muito calma no centro cirúrgico. Foram nove horas e meia de operação e deu tudo certo. Sinto que minha missão era salvar a vida de Hellena.
Comentários