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Cidades

Solidariedade salva vida de menina de dois anos

Hellena Pereira foi diagnosticada com uma doença grave e precisava de um transplante de fígado para sobreviver


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Imagem ilustrativa da imagem Solidariedade salva vida de menina de dois anos
Marlene Pereira ao lado da bisneta Hellena e de Regiane Rossi: doação de parte do fígado ocorreu após descoberta de história em salão. |  Foto: Douglas Schneider/AT

Aos 2 anos, hoje a pequena Hellena Pereira de Souza pode finalmente sorrir, correr e experimentar coisas simples da vida, como brincar em um parquinho e  pisar descalça na areia. 

Mas a história da menina, que nasceu com uma doença grave (colestase intra-hepática familiar progressiva) e que só tinha o transplante de fígado como opção para continuar a viver, mudou  com um gesto  de amor. A  solidariedade veio de alguém que nem a conhecia.  

Dois meses após ter doado  parte do fígado para  Hellena, a  nutricionista  Regiane Rossi Heringer, de 33 anos, contou que a história entre as duas famílias só pode ser explicada como um chamado de Deus. 

“Eu saí de casa  um dia para fazer minha unha, sem agendar. Enquanto fazia a unha,  escutei  outra cliente contar para a dona do salão a história de Hellena, que precisava de um transplante de fígado”.

Na hora, segundo Regiane, foi o nome Hellena que fez com que ela prestasse atenção no assunto. 

“Esse era o nome que sempre disse que escolheria se tivesse uma filha. Tenho  um filho, com a mesma idade de Hellena, então continuei a ouvir a mulher. Ela comentou que precisavam de um doador com sangue O+ e era o meu”.

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Segundo Regiane, ao chegar em casa, se sentiu mal, pois sabia que tinha de fazer algo. “Chorei  a noite toda. Senti que  ela estava contando a história para mim, pois eu poderia ajudar”.

Ao acordar, a nutricionista contou ao marido e  resolveu que faria a doação. “Liguei para a dona do salão, que era uma amiga, e pedi que falasse com a  família”.

Depois de quase um ano de preparação, que incluiu Regiane ter de perder 15 quilos, além de muitos exames e consultas,  a cirurgia de Hellena foi realizada em novembro do ano passado, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

Para ela, que nunca se questionou da decisão, ver Hellena sorrir novamente faz tudo valer a pena.

“Quando a conheci, era uma criança que não sorria, tinha a barriga muito inchada, olhos  amarelinhos, dificuldade em se alimentar e muitas coceiras pelo corpo. Faria tudo de novo, se precisasse, para vê-la brincar”.

Descoberta após nascimento

Imagem ilustrativa da imagem Solidariedade salva vida de menina de dois anos
Hellena não conseguia comer. |  Foto: Douglas Schneider/AT

Após o nascimento, a coloração amarelada da pele e nos olhos já indicava que Hellena Pereira de Souza, 2, precisava de cuidados. 

A bisavó de Helena, a dona de casa Marlene Pereira de Souza, 55 anos, que acompanha desde o início todo o tratamento da criança, contou que, após vários exames, um  ultrassom apontou uma  cirrose hepática. “Ela ficou dois meses  internada na época”.

Mas Marlene relatou que os problemas se complicaram. “Com o tempo, ela não conseguia se alimentar, pois a barriga inchava. Ela se coçava o tempo inteiro. O  médico falou que a única chance para ela era um transplante, e que teria de ir para São Paulo”.

Hellena foi incluída no projeto Transplantar, do  Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS).  Pelo programa, ela recebeu o atendimento da equipe multidisciplinar do  Hospital  Sírio-Libanês.

O médico Eduardo Antunes da Fonseca, coordenador médico da equipe de transplante de fígado do hospital, explicou que Hellena nasceu com a doença colestase intra-hepática familiar progressiva (PFIC). “Ela acomete  o fígado e se agrava progressivamente. Geralmente, a criança é desnutrida,  com alto risco de infecções graves e  de sangramentos digestivos”. 

A enfermeira-coordenadora de transplantes do Sírio- Libanês, Amanda Angrisani, explicou que, no caso de transplantes intervivos, como foi o de Hellena, a doadora tem 30% do seu fígado retirado.

Ela explicou, ainda,  que a pessoa transplantada consegue ter uma vida normal, desde que tenha bons hábitos e tome medicações imunossupressoras, para que o organismo não rejeite o órgão.

“Essa era a minha missão”

Além de uma cicatriz de mais de 20 centímetros no  abdômen e uma parte do fígado, a  nutricionista  Regiane Rossi Heringer  e a pequena Hellena Pereira de Souza hoje compartilham um laço que vai ficar para a vida.  

A Tribuna -  Como soube da Hellena? 

Regiane Rossi Heringer -  Foi em novembro de 2021. Fui em um salão. Quando eu cheguei, a Lena (Marlene) estava contando a história da bisneta. 

Como foi o processo da cirurgia?

Foi quase um ano até o transplante. Tudo foi feito pela equipe do Sírio-Libanês, em São Paulo. Tive de ir a quatro consultas lá. Tive de emagrecer 15 quilos para operar, tudo acompanhado pela equipe. Lembro que, na primeira consulta com o cirurgião, ele perguntou se eu estava certa do procedimento e disse que eu era a última chance para Hellena. 

Em algum momento duvidou do estava fazendo? 

Nunca tive dúvidas. Passei um mês no pós-operatório em São Paulo. Meu filho (de 2 anos)  ficou com meu marido e minha sogra foi como minha acompanhante. Ficamos em uma casa de apoio. Tudo pelo SUS e todos ajudaram. Trabalhei em home office quando estava fora. Só de olhar para Hellena hoje, tudo vale a pena. 

Você a conheceu antes?

Sim. Ela já estava apenas com 18% do fígado funcionando. Era sempre com os olhos muito amarelos, barriga inchada, sempre abatida. Três dias antes da cirurgia, ela teve complicação grave, com várias hemorragias. Foi para a UTI, onde recebeu oito bolsas de sangue. Eu já estava em São Paulo,  a cirurgia seria em poucos dias. Foi um milagre!

Como foi a cirurgia?

Eu, que tive filho em um parto normal, pois sempre  tive medo de cirurgia e de anestesia,  entrei no dia do transplante muito calma no centro cirúrgico. Foram nove horas e meia de operação e deu tudo certo. Sinto que minha missão era salvar a vida de Hellena. 

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