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Cidades

“Ser introspectivo não é um problema”, diz psiquiatra

Essa característica do temperamento de uma pessoa só será preocupante se gerar incômodo e muita dificuldade social


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Imagem ilustrativa da imagem “Ser introspectivo não é um problema”, diz psiquiatra
Fernanda Mappa diz que é comum a sociedade não notar os “quietinhos” |  Foto: Divulgação

Uma criança mais quieta, com poucos amigos e de poucas palavras. Para os pais, essas características mais comuns em pessoas introspectivas podem ser preocupantes. Só que a introspecção nem sempre será motivo de preocupação, de acordo com especialistas.

“Ser introspectivo não é um problema. É uma característica do temperamento da pessoa que deve ser respeitada. Será um problema se isso gerar muito incômodo e muita dificuldade social”, afirma a psiquiatra da infância e adolescência Fernanda Mappa.

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A médica observa ainda que é comum a sociedade não olhar para quem é desde sempre “quietinho”.

“Com isso, ele é cada vez menos requerido socialmente, cada vez menos solicitado nas relações interpessoais e cada vez menos demandado. Por consequência disso, desenvolve menos habilidades sociais ou sempre se mostra aquém do esperado para sua idade”, destaca.

Mas é importante observar se a introspecção está atrapalhando na interação social, alerta o psiquiatra da infância e adolescência Rodrigo Eustáquio.

“Quando essa introspecção ou ser quietinho demais acaba atrapalhando na questão da interação social, da comunicação, dificulta a criança a fazer amizades, apresentar trabalho, a participar de atividades coletivas ou ela não consegue se inserir em grupos de amigos, aí sim eu diria que essa introspecção acaba sendo um problema”.

O psicopedagogo, terapeuta de família e colunista de A Tribuna Cláudio Miranda orienta ainda que os pais devem estar atentos a alguns comportamentos dos filhos.

“O que se deve ficar atento é com a quantidade de tempo que o adolescente fica sem interagir com as pessoas da casa e com os amigos. Nesse ponto, deve-se começar a se preocupar e tomar medidas favorecedoras de uma interação mais positiva e frequente”.

O psicólogo e psicanalista Diego Fernandes reforça que ser “quietinho” pode ser normal até certo ponto, desde que não represente um obstáculo ao desenvolvimento saudável do jovem.

“A psicanálise reconhece a diversidade de personalidades e a importância de permitir que os indivíduos expressem sua singularidade. No entanto, se a introspecção levar ao isolamento extremo, à dificuldade significativa de comunicação ou interferir no funcionamento social e no bem-estar emocional, pode ser útil buscar apoio psicológico”.

Prejuízos na vida adulta e no mercado de trabalho

Se não tiverem ajuda ainda na juventude para lidar com as dificuldades de relacionamento, os jovens poderão ter prejuízos na vida adulta, amorosa e mercado de trabalho, de acordo com especialistas.

O psiquiatra Jairo Navarro analisa ainda que para um emprego, além da capacidade de executá-lo, é necessário saber se relacionar. “Muitas vezes, as pessoas que têm dificuldade de interagir com outras e de se comunicar podem ter dificuldades de ascender no posto de trabalho ou até mesmo de conseguir um emprego”.

No Japão, por exemplo, não saber conversar já afeta até mesmo os relacionamentos. O número de homens que admitem não saber conversar com mulheres aumentou nos últimos dois anos de 14% para 20%. Já o índice de mulheres que dizem não ter traquejo para falar com eles subiu de 16% para 18%.

“A pesquisa pontua ainda a questão da rede social e o quanto pode ser cansativo construir relacionamentos. Isso entra na questão da baixa tolerância à frustração. Se relacionar é estar aberto a poder se frustrar também. E isso precisa ser trabalhado em casa com as crianças, antes delas irem para o mundo sem estarem preparadas para isso”, alerta a psiquiatra Letícia Mameri-Trés.

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Estratégias para interação

Aprenda a se comunicar

Os cuidadores devem aprender a se comunicar com os filhos e a primeira mudança deverá ser nos padrões de sociabilidade dos pais. Eles deverão estar mais atentos à forma como se comunicam com os filhos e deverão encontrar estratégias capazes de abrir a porta do quarto deles. Isso quer dizer encontrar formas positivas e saudáveis de comunicação e relacionamento com os filhos.

Conheça seu filho

Os pais devem esquecer a ideia de que todo filho é igual e entender desde cedo como é o seu temperamento, personalidade e afinidades. Evite comparações com outras pessoas, mesmo que sejam irmãos, por exemplo.

Ambiente seguro

Os pais devem criar um ambiente seguro e acolhedor, no qual possam se expressar livremente, sem medo de julgamento ou rejeição. Atividades em pequenos grupos são uma boa maneira de ajudar o tímido a se sentir mais à vontade, pois terá menos pressão para se destacar em um ambiente menos intimidador.

Atividades fora do quarto

Uma regra importante é que a criança ou adolescente faça as refeições fora do quarto, de preferência com a família. Vale estimular atividades que exijam que a criança ou adolescente fique menos tempo isolado.

Os cuidadores também podem criar atividades em que o filho tenha que sair de casa: aula de reforço, curso de inglês, natação, música, academia e esportes. Além de evitar o quarto e estimular a socialização, são boas atividades para a liberação de endorfina.

Menos tempo de tela

Os pais devem determinar um limite de tempo para o uso das redes sociais, sempre com supervisão e interesse pelo que o filho faz na internet.

É importante também ficar atento ao comportamento e às postagens dos filhos nas redes. O tipo de texto pode trazer sentimentos que não são expressados. Proibir uso livre desses dispositivos .

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