Ruídos altos podem viciar, alerta médica
Uso de fone de ouvido também contribui para queixas de perda de audição
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Buzinas, sirenes e música em alto volume são alguns dos sons que, por longos períodos, podem prejudicar a saúde.
Mas estudos mostraram que, além disso, podem viciar. Foi o que mostrou um estudo da Universidade de Harvad, nos Estados Unidos, apontado pela otorrinolaringologista Christiane Saliba.
“A pesquisa mostrou que os sons em níveis altos podem agir como uma droga no cérebro e fazer com que as pessoas fiquem dependentes do ruído. O barulho libera substâncias, como faz o ópio ou a heroína, que vão gerar prazer e tornar a pessoa em uma espécie de viciada em ruídos”, destaca.
Ela, que é membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, salienta ainda que a poluição sonora se tornou um dos maiores problemas ambientais dos grandes centros urbanos.
“Qualquer som acima de 60 decibéis pode ser ameaçador aos ouvidos. Na hora que somos expostos a um barulho alto, nosso organismo tem mecanismos de defesa relacionados ao ouvido interno”.
A médica explica que ocorre uma contração dos músculos sensoriais e eles vão diminuir o movimento dos ossículos do ouvido, que imprimem a pressão nas células nervosas da cóclea.
“Se não tiver esse tempo para diminuir esse impacto, vai direito nas células nervosas e prejudica a audição”.
A fonoaudióloga Rafaela Andreatta Ferraço, do São Bernardo Apart Hospital, observa que o barulho nas grandes cidades cerca por todos os lados.
“Ficamos expostos a ruído constante, que interfere na qualidade de vida e, muitas vezes, não damos conta do quanto isso incomoda”.
O som alto e constante atrapalha o padrão de sono fisiológico, aponta o cardiologista Schariff Moysés. “Pela primeira vez, a Associação Americana do Coração incluiu a má qualidade do sono entre os fatores de risco para a saúde cardiovascular. Uma noite de sono ruim ou curta é tão nociva quanto o cigarro”.
O ruído excessivo faz com que as pessoas tornem o sono superficial e pode ser risco para doenças, explica o pneumologista Sérgio Barros, especialista em Medicina do Sono. “O barulho na hora do sono pode levar até a uma obesidade. Isso por causa da alteração metabólica que acontece”.
“Só fico no silêncio quando estou dormindo”
O som alto faz parte do dia a dia da dançarina e DJ Bárbara Marangoni, 36 anos, e ela descobriu que isso pode estar prejudicando sua saúde.
Quando não está com os fones tocando música, ela está à frente dos instrumentos dançando durante o show. Mesmo longe dos eventos, a dançarina, que também é professora de dança, não consegue dar folga para os ouvidos.
“Tem três meses que estou com problema de audição. Agora que está voltando aos poucos. Sou dançarina, DJ e ainda professora de dança, estou sempre com música alta, acho que isso afetou um pouco. Já estou em tratamento, mas é difícil, porque só fico no silêncio mesmo quando estou dormindo”, conta.
Fone de ouvido contribui para aumento de queixas
O número de pacientes reclamando de perda de audição e zumbidos no ouvido tem aumentado e alertado médicos, principalmente depois do isolamento social.
“Hoje, temos visto pacientes cada vez mais jovens com perda auditiva devido ao uso de fones de ouvido, principalmente. E essas perdas estão acontecendo cada vez mais precoce, em crianças e jovens. É necessário uma conscientização do uso desse equipamento”, destaca o otorrinolaringologista Bruno Caliman.
Ele explica que os fones têm de ser usados em volumes mais baixos. “De modo que, mesmo de fone, consiga ouvir a pessoa te chamar”.
Quatro horas por dia seria o limite para o uso de fones, em volume menor que 80 decibéis, segundo a otorrinolaringologista Christiane Saliba.
“Uma forma de saber se está alto é quando a pessoa perto consegue ouvir o que o outro, de fone, está ouvindo. Estamos atendendo muitas crianças que já começam com uma perda de audição por causa do som alto.”
Ela explica que o fone intra-auricular, aquele que fica dentro do ouvido, é ainda pior. “Essa perda de audição pode ser irreversível. Quando o som passa de 85 de decibéis, a probabilidade de lesão pode ser cada vez maior”.
A fonoaudióloga Rafaela Andreatta Ferraço diz que é possível ouvir música alta em alguns momentos da vida, mas é preciso cautela.
A neurologista Soo Yang Lee lembra que os males causados pelo excesso de ruídos ocorrem com a exposição prolongada e contínua. “A exposição casual permite que as células auditivas se regenerem”.
Veja o ranking de barulho
Fonte: Especialistas consultados e Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial.
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