Risco de morte: ES investiga três casos de doença bacteriana
Os pacientes estão com suspeita de botulismo, que pode ter sido provocado por ingestão de alimentos contaminados
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Doença grave que pode matar, causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, é investigada no Estado.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que neste ano foram cinco casos suspeitos de botulismo no Estado. Destes, dois foram descartados e três pacientes que teriam comido alimentos contaminados seguem em investigação.
A reportagem apurou que pelo menos um dos pacientes está internado no Hospital Estadual Jayme Santos Neves, na Serra. Ele teria comido tomate seco orgânico.
Dos casos de internação, um paciente encontra-se na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
O Ministério da Saúde alerta que todas as formas de botulismo podem matar se não tratadas adequadamente e são consideradas emergências médica e de saúde pública.
O período de incubação (entre o consumo e o início dos sinais e sintomas) pode variar de duas horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação.
Ana Carolina D'Ettorres, infectologista, explica que os sintomas envolvem a paralisia de diversos músculos. “A pessoa apresenta visão dupla, dificuldade de deglutição, perda do controle da musculatura cervical e em formas mais graves a perda do controle dos músculos respiratórios”.
Ela conta ainda que a intoxicação ocorre principalmente pela ingestão de alimentos em conservas caseiras, e a maior parte dos casos está relacionada a vegetais em conserva, como cenoura, milho, tomate, de forma caseira, ou seja, que não passaram pela fiscalização da Vigilância Sanitária.
“Eu nunca atendi um caso suspeito, mas o botulismo é marcado por uma paralisia muscular aguda, enquanto a maioria das intoxicações alimentares manifestam-se com sintomas gastrointestinais”.
O infectologista Carlos Urbano destaca que é uma doença bastante rara. Ele complementa falando sobre o botulismo infantil, que é, na verdade, do tipo intestinal e mais frequente em crianças com idade entre 3 e 26 semanas.
Sua principal causa é a ingestão de mel de abelha nas primeiras semanas de vida.
SUPERAÇÃO
Quem ficou cerca de um ano internada após consumir um molho pesto comprado em uma feira em Brasília, em 31 de dezembro de 2021, foi a servidora pública Doralice Goes, de 47 anos.
Em 23 de janeiro de 2022, um domingo, ela colocou o molho em uma torradinha e comeu. Na terça-feira, sentiu uma fraqueza estranha. Doralice ficou 314 dias na UTI, sobreviveu e comemora cada vitória, como reaprender movimentos simples.
SAIBA MAIS
> O que é botulismo?
- É uma doença neuroparalítica grave, rara, não contagiosa, causada pela ação de uma potente toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum (C botulinum).
- O agente etiológico entra no organismo por meio de ferimentos ou pela ingestão de alimentos contaminados que não têm produção ou conservação adequada.
- A doença pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.
> Transmissão
- O Botulismo alimentar ocorre por ingestão de toxinas presentes em alimentos contaminados e que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada.
- Os alimentos mais comuns são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pescados defumados, salgados e fermentados; além de queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlatados industrializados.
> Sinais e sintomas
- Podem ser gastrointestinais e/ou neurológicos, com início rápido e progressivo.
- Manifestações gastrointestinais mais comuns são náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, que podem anteceder ou coincidir com os sintomas neurológicos.
- Já os principais sintomas neurológicos são visão turva, queda da pálpebra, visão dupla, dificuldade de engolir e boca seca.
- Com a evolução da doença, a fraqueza muscular pode se espalhar, descendo para os músculos do tronco e membros.
> Recuperação
- O botulismo pode apresentar progressão por uma a duas semanas e estabilizar-se por mais duas a três semanas, antes de iniciar a fase de recuperação, com duração variável.
- Nas formas mais graves, a recuperação pode durar de seis meses a um ano, embora os maiores progressos ocorram nos primeiros três meses após o início dos sintomas.
Fonte: Ministério da Saúde e médicos entrevistados.
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