Conheça o capixaba que lutou 378 dias na Ucrânia
Venciano Vinícius, que é atirador esportivo, foi para a batalha como voluntário. Ele conta que o motivo foi a vontade de ajudar
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A paixão por armas fez o atirador esportivo capixaba Venciano Vinícius, de 36 anos, morador de Linhares e nascido em Nova Venécia, passar 378 dias na guerra da Ucrânia.
Ao chegar no país, Vinícius e mais nove amigos brasileiros foram acolhidos diretamente para o exército ucraniano, onde fizeram uma série de treinamentos antes de entrar no combate. Na guerra, ele usou como nome “Chucky”.
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Ele revela que não chegou a avisar à família quando decidiu ir. Na época, o atirador esportivo estava em uma especialização no Uruguai quando foi convidado por um amigo brasileiro e embarcou para a guerra.
“A história começa antes da guerra surgir. Sempre participei de campeonatos. Em busca de especialização fora do país como atirador esportivo, em um desses treinamentos, no Uruguai, um amigo disse que estava indo para a guerra da Ucrânia. E se eu quisesse ir, daria. Eu pedi que ele perguntasse se havia alguma vaga no batalhão de lá. Sem avisar à família, esposa, minha filha, meus pais, eu decidi que iria”, conta.
Somente quando estava prestes a embarcar é que foi avisar aos capixabas, e todos ficaram muito assustados. “Eles ficaram desesperados. Me diziam que era uma guerra que não era minha, e não teria necessidade. Mas mesmo entre os questionamentos, decidi viver essa experiência. Até hoje não consigo responder o motivo de ter ido, só consigo dizer que fui, por vontade de ajudar aquele povo”.
“Quando eu cheguei lá, tive a certeza que era para eu estar. Preferi não ficar no conforto da minha casa não. Aquele povo está sofrendo muito, está sendo massacrado pelos russos, e muitos inocentes morrendo”, observou.
Voluntário
“Eu não sou militar. Fiquei quatro meses como voluntário, e sem receber nenhum centavo. Sou o primeiro capixaba de Nova Venécia a ir para a guerra, depois da Segunda Guerra Mundial”, ressaltou.
Por nunca ter trabalhado diretamente para as Forças Armadas no Brasil, Vinícius teve a experiência comprovada com o manuseio de armas através dos cursos e competições esportivas que participa no Brasil e no mundo.
Com as comprovações, o atirador esportivo foi direto para o exército ucraniano.
“Ficamos no Batalhão de Artilharia. Mas ficamos pouco tempo. Trocamos para o Batalhão de Inteligência, onde montamos uma equipe só de brasileiros, para melhor comunicação. Porque sem comunicação, a morte poderia acontecer a qualquer momento também”, lembra ele.
"Lá, você corre risco de vida o tempo todo"
Em exatos 378 dias na Ucrânia, o atirador esportivo capixaba Venciano Vinícius lembra que o risco de morrer é iminente, e o tempo inteiro, já que a Rússia realiza ataques a qualquer momento, e em diferentes cidades.
“Lá, você corre risco de vida o tempo todo. Em um dos últimos momentos que vivi lá, a Rússia mandou um ataque para a capital com 70 drones de uma pancada só. Como foram muitos, acabou morrendo gente inocente”.
O marco inicial da guerra entre Ucrânia e Rússia ocorreu no dia 24 de fevereiro de 2022, com a invasão russa ao território ucraniano. Por meio de ataques terrestres e aéreos, a Rússia deu início ao que chamou de “operação militar especial”.
Mas a tensão entre os países vem de longa data. Há um conjunto de fatores que influenciam no conflito. E o que capixaba viu de perto foi assustador.
“Nós, brasileiros, estaríamos dispostos a entregar a Amazônia para os Estados Unidos, por exemplo, para evitar uma guerra? Acredito que não. Então, estaríamos em guerra. É o que está acontecendo lá. A Rússia tentando tomar a Ucrânia de qualquer maneira, e eles estão lutando para isso não acontecer”.
“O motivo inicial era conquistar somente algumas regiões da Ucrânia, que eram separatistas, mas o presidente da Rússia já falou que não vai parar”.
Atirador pensa em voltar para o combate mais uma vez
O atirador esportivo Venciano Vinícius voltou para o Espírito Santo no início deste ano, mas ainda pensa em embarcar para a Ucrânia novamente. Vinícius confessa que a família não quer que ele volte, mas é um desejo que está em seu coração.
“As pessoas me questionam o tempo inteiro. E não adianta eu tentar explicar, porque elas não entendem esse sangue de lutar por um povo que não é meu. Graças a Deus voltei para minha família, mas quero ir novamente sim”.
Fluente em inglês, o atirador esportivo também lembra que no começo foi bem complicada a comunicação, já que é difícil encontrar ucranianos que falem inglês.
“Depois que entrei para o Batalhão tivemos algumas aulas de ucraniano para poder conseguir nos comunicar lá. Aprendi o básico da comunicação em ucraniano e um pouco de russo também”.
Ao chegar na Ucrânia, ele imaginava que fosse ver um cenário de guerra, mas disse que as pessoas seguiam trabalhando normalmente, porque, apesar do conflito, buscam seguir a vida.
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