Bancos de areia mudam cenário do Rio Doce
Por conta do longo período sem chuvas e da ocupação irregular, o nível da água está baixo na extensão que fica em Colatina
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Com o nível de água baixo por conta do avanço do período sem chuvas, bancos de areia mudaram o cenário daquele que é considerado a maior bacia hidrográfica do Espírito Santo: o rio Doce, em Colatina, Norte do Estado.
De acordo com o coordenador de Hidrologia, Informação e Pesquisa da Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), Luiz Aquino, além da falta de chuvas, outros fatores contribuem para o atual estado do rio.
“Numa bacia hidrográfica igual a do rio Doce, temos dois fatores: o humano e o natural. À medida que o homem foi ocupando os leitos dos rios, não adotando medidas para proteger o solo e desmatando, foi gerando assoreamento. Além disso, ultimamente estamos vendo enchentes, que levam toneladas de terra e barro para os rios”.
Ainda segundo o coordenador, até a abertura de estradas de chão intensifica a formação de bancos de areia dentro dos rios. “Elas têm de ter caixas secas, um sistema para que a areia não vá direto para dentro do rio”.
Luiz Aquino ressaltou que os comitês das bacias hidrográficas já desenvolvem e fomentam projetos para frear o assoreamento. “Temos comitês atuantes nessas questões do assoreamento. O próprio Comitê da Bacia do Rio Doce já tem vários projetos de reflorestamento das matas ciliares e muitos outros”.
No rio Doce, em Colatina, é captada a água que chega às casas de mais de 100 mil moradores do município. Segundo a prefeitura, os bancos de areia ainda não prejudicaram o abastecimento, mas há um trabalho para a preservação e fiscalização do uso do solo.
Em nota, a prefeitura disse que age na fiscalização e no controle de possíveis danos ambientais nas Áreas de Preservação Permanente e coloca caixas secas na revitalização de estradas rurais.
Também no Norte do Estado, Linhares apresenta pontos de assoreamento no rio Doce. O avanço dos bancos de areia está relacionado ao longo período de estiagem.
Levantamentos meteorológicos realizados pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) mostraram que o período mais crítico vai de maio a setembro.
Verba para desassorear bacia do rio é de R$ 120 milhões
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) revelou que tem realizado investimentos voltados à recomposição de áreas, por meio do projeto Rio Vivo, que está investindo R$ 120 milhões ao longo da bacia.
Segundo o CBH-Doce, a iniciativa tem como referência os programas desenvolvidos pelos comitês, que visam cercamento de nascentes, controle de sedimentos, construção de fossas sépticas e barraginhas.
Presidente do CBH-Doce, Flamínio Guerra destaca que a região tem uma área inserida no bioma de Mata Atlântica, um dos mais importantes e ameaçados do mundo.
“Nesse contexto, o Rio Vivo auxilia na recuperação de áreas degradadas, na conservação de nascentes e no tratamento de esgoto rural, pois são ações que ajudam a termos a água em maior qualidade e quantidade”.
Ainda de acordo com ele, o Rio Vivo é financiado pela cobrança pelo uso da água, instrumento econômico de gestão das águas que tem o objetivo de incentivar o uso racional e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação dos mananciais.
No total, 71 municípios, definidos pelos comitês de rios afluentes mineiros e capixabas, recebem o programa. O CBH-Doce divulgou que está com a licitação para a contratação de empresa especializada na implementação de projetos hidroambientais na parte capixaba da bacia. Ao todo, com recursos do CBH-Doce, serão realizadas mais de 600 intervenções.
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