Alegre, a cidade dos apelidos
Livro do coronel da PM Júlio Cezar Costa traz um capítulo com 402 nomes “fantasia” de amigos que moram no município
Escute essa reportagem
Alegre virou a “cidade dos apelidos” no livro do professor, escritor e coronel da Polícia Militar do Espírito Santo Júlio Cezar Costa, de 60 anos.
A obra, intitulada “Crônicas do Coronel: Filho do Cabo” e lançada em junho, traz um capítulo com 402 apelidos de conhecidos e amigos que cresceram com ele na cidade do Sul do Espírito Santo.
Leia mais sobre Cidades: Regional
“Em nenhum outro lugar conheci uma cidade com a expressiva tendência de nominar pessoas através de seus apelidos. Alegre, neste quesito, é também ímpar. São centenas de ‘nomes fantasia’ que se tornaram nomes próprios no cotidiano vivencial dos alegrenses”, diz ele.
Não bastasse isso, todos os apelidos foram impressos em uma placa que Júlio Cezar doou para o município do Sul do Estado e que foi instalada em uma praça do lugar. “Tivemos apoio da prefeitura e amigos. Foi uma noite especial”, completou.
De acordo com o coronel, o livro é um compilado com mais de 50 crônicas que também homenageiam outras passagens de sua vida. “O Filho do Cabo”, por exemplo, faz menção ao título que recebeu por ser filho de militar, do cabo Lastênio Nascimento Costa, que completou 92 em setembro.
Juntos, pai e filho têm 110 anos de carreira na Polícia Militar. “Busquei retratar historicamente a PM em uma linguagem contemporânea, algo que a gente vivenciou e muitas vezes fomos protagonistas junto a outros colegas da corporação”, explicou.
O nome do livro é em homenagem a uma frase com a qual ele foi recebido pelo coronel Wlamir Coelho da Silva, comandante à época. “Eu havia retornado da Academia Militar em Pernambuco, onde concluí o curso de formação. Ele mandou me chamar, havia conhecido meu pai no Contestado da PM, em Barra de São Francisco. Ele disse: ‘você é filho do cabo, preserve o legado do seu pai’”.
Amigo de infância de Júlio Cezar, o pedagogo Alexandre Duarte Venâncio, de 54 anos, teve seu apelido publicado no livro. Segundo ele, Xodó é seu segundo nome desde que ele era criança.
“Todos aqui me chamam de Xodó e eu sempre gostei. Sempre vi isso de apelidarem e vejo como uma homenagem mesmo. Só quem me conhece há anos me chama assim e isso significa que de alguma maneira eu tenho uma relação com essas pessoas. Acho que todos do livro pensam assim”.
Júlio Cezar Costa, escritor e coronel: “Não conheço outra cidade com essa tendência”
A Tribuna – Por que Alegre é a sua “cidade dos apelidos”?
Júlio Cezar Costa – "Não conheço outra cidade com essa tendência de nominar pessoas através de seus apelidos. Alegre, neste quesito, é também ímpar. São centenas de nomes fantasia que se tornaram nomes próprios no cotidiano vivencial dos alegrenses."
- Quando surgiu a ideia de escrever “Crônicas do Coronel: O Filho do Cabo”?
"Nós temos uma longa história na Polícia Militar do Espírito Santo. Somando o tempo que meu pai e eu temos de Polícia Militar dá 110 anos. Esse foi um dos motivos de querer escrever o livro."
- E o título?
"Meu pai, o cabo Lastênio Nascimento Costa, que completou 92 anos agora em setembro, é um dos homens mais honrados que a cidade de Alegre já teve. Mas isso vem de uma conversa com o comandante-geral à época, o coronel Wlamir Coelho da Polícia Militar."
- O senhor também é pastor da Igreja Cristã Maranata, procede?
"Com muita satisfação eu digo isso, porque a Igreja Cristã Maranata para mim não é uma religião. É onde eu aprendi uma fé transcendente e aprendi que existe uma comunidade pela proximidade, pela interatividade e pela troca não monetária de valores que nós fazemos ali.
O meu agradecimento vai, além de tudo, do maior ao menor, começando por Deus e terminando naqueles que fizeram conosco esse ombreamento para fazer essas mudanças tão grandes que nós vivemos na Polícia Militar e na segurança pública do Estado."
- O que mais marcou a sua vida dentro da corporação?
"A desconstrução que a Polícia Militar do Espírito Santo viveu na primeira década desse século. Houve um processo depreciativo com a vinda de pessoas que nada conheciam da nossa gente. Isso aqui não é um tom de crítica, isso é uma pesquisa profunda."
Rodrigo, o “Careca”
“Em Alegre, me chamo Careca, mas meu nome é Rodrigo. Quando eu era pequeno, meu pai não gostava que deixássemos cabelos compridos e eu não gostava de ir ao barbeiro para cortar.
Mas ele me levava à força para cortar e lá na cadeira do barbeiro eu me debatia muito e acabava fazendo falhas nos cortes.
Uma vez eu tive até que raspar o cabelo. Daí para frente meus amiguinhos botaram o apelido de Careca e ficou. E eu até raspei o cabelos mais umas cinco vezes também porque pegávamos muito piolho. Sempre amei meu apelido e fico muito feliz”.
Análise
Construção da identidade
“Os apelidos também têm um papel importante na construção da nossa identidade. Eles podem moldar a forma como nos vemos e como os outros nos veem. Se um apelido é positivo, pode aumentar a autoestima e a confiança em si mesmo.
Por outro lado, se for negativo, pode afetar negativamente a autoimagem e até mesmo levar a problemas de autoestima. O uso de apelidos românticos pode ser uma forma de criar intimidade e conexão emocional em um relacionamento amoroso.
Eles podem ser usados para expressar carinho, afeto e amor. No entanto, é importante lembrar que o uso de apelidos deve ser consensual e respeitoso.” - Josiplessis Marques, psicóloga
Comentários