Que tal comer inseto? Chefs e cientistas defendem uso de insetos na culinária
Segundo eles, esses seres são fontes de proteína e de micronutrientes que podem fazer bem à saúde humana
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A ideia de incluir insetos como opção gastronômica é distante da realidade brasileira, mas ganha cada vez mais destaque mundo afora, inclusive, em países europeus. Até as Organizações das Nações Unidas (ONU) já fizeram um relatório com os benefícios do hábito. Chefs e cientistas defendem o uso de insetos na alimentação humana.
Na Europa, alimentos à base de três tipos de insetos são comercializados: grilos domésticos, larvas-da-farinha e gafanhotos. Especialistas explicam que os insetos são fontes de proteína e de micronutrientes que podem fazer bem à saúde humana.
Para a nutricionista Fabiana Fiuza Teixeira, do Núcleo de Saúde Mental e Bem-Estar do Hospital Israelita Albert Einstein, o uso dos insetos na culinária é visto como positivo, principalmente porque eles possuem propriedades nutritivas interessantes para a saúde.
“O fato de termos um ‘whey protein’ à base de insetos e não a partir do soro do leite é muito interessante, porque os insetos são uma rica fonte de proteínas e de ácidos graxos importantíssimos que o leite, por exemplo, não traz”, afirma. A especialista lembra, ainda, que esses animais são fontes de ômega 3, ômega 6 e fibras.
Andreia Pimentel, professora de Gastronomia na Universidade São Francisco e chef do quadro “Cardápio Surpresa”, do “Programa Eliana”, no SBT, conta que sua receita favorita é o “chocogrilo”, uma mistura de cacau 70% com pedaços de grilos torrados.
Ela indica o que os iniciantes podem experimentar da entomofagia (consumo de inseto por humanos).
“Para os brasileiros, indico, com certeza, as formigas. Elas já estão em nossa cultura popular e fazem parte da biodiversidade brasileira. As principais são: a içá e a saúva vermelha. Os insetos para alimentação humana são criados e exclusivos para este fim em fazendas urbanas com controle e cuidados de higiene, temperatura e alimentação diários”.
Mais de duas mil espécies de insetos comestíveis já foram catalogadas em todo o mundo. No Brasil, há mais de 100 espécies de insetos comestíveis catalogadas.
Grilos e gafanhotos são mais aceitos, revela estudo
A inclusão de insetos na alimentação está sendo estudada por cientistas de diversas universidades ocidentais.
Um dos estudos brasileiros revelou que 51% dos participantes rejeitam a ideia do consumo de insetos, mas os grilos e os gafanhotos lideraram na aceitação do público.
O estudo foi desenvolvido durante o doutorado do pesquisador Antônio Bisconsin Júnior, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na pesquisa, apenas 13% dos brasileiros aceitariam experimentar alimentos feitos à base de insetos.
As respostas da pesquisa levaram em consideração um índice que varia de -100, para a pior aceitação, a + 100, para a maior aceitação. Os grilos e os gafanhotos obtiveram a nota +34. A justificativa é de que eles foram associados à grama, à terra e a um ambiente mais limpo.
Em seguida, ficaram as formigas, com nota +25 de aceitação, e as larvas obtiveram nota -2 de rejeição. Por último, as baratas tiveram nota -44. O professor e pesquisador Antônio Bisconsin Júnior analisa os resultados da pesquisa.
“As baratas, como esperado, tiveram a maior rejeição, mas quando pensamos na criação desses insetos, elas têm uma capacidade reprodutiva, de crescimento e de resistência muito boa, além de serem uma excelente fonte de proteínas. A criação de baratas é mais fácil do que a de grilos, por exemplo”.
De acordo com as Organizações das Nações Unidas (ONU), estudos sobre a composição alimentar aumentam a base de evidências para apoiar o uso de insetos comestíveis.
Saiba mais
Aceitação
51% dos brasileiros participantes de um estudo rejeitam a ideia do consumo de insetos. Somente 13% dos voluntários tiveram alguma aceitação a experimentar alimentos com insetos comestíveis.
A União Europeia já busca padronizar os insetos como fonte de alimento, construindo normas de segurança para permitir que eles sejam vendidos para consumo humano.
Na América do Norte, crescem os lugares que oferecem os insetos comestíveis.
Dados de composição alimentar aumentam a base de evidências para apoiar o uso de insetos comestíveis para segurança alimentar e nutricional e informam políticas e programas de nutrição, saúde e agricultura.
Fonte: Organização das Nações Unidas (ONU), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e especialistas consultados.
Benefícios
Insetos
Os insetos comestíveis são ricos em proteínas, fibras, ômega 6, ômega 3, cálcio, fósforo, ferro e zinco. Neles, estão presentes aminoácidos essenciais para os seres humanos.
Em comparação com a produção de fontes tradicionais de proteína, como de bovinos, a de insetos comestíveis é considerada sustentável. As criações de insetos emitem menos gases de efeito estufa (GEEs) que as de outros animais.
Mais de duas mil espécies de insetos comestíveis já foram catalogadas em todo o mundo. Alguns exemplos são os coleópteros (besouros), himenópteros (formigas), ortópteros (grilos e gafanhotos) e lepidópteros (lagartas). No Brasil, há mais de 100 espécies catalogadas e alguns povos indígenas incluem algumas delas na culinária.
Na hora de escolher o inseto para consumo humano, deve-se atentar para a procedência dos mesmos, ou seja, os cuidados com o criadouro, higiene nos processos de preparo e cocção.
Os insetos complementam hoje o cardápio de aproximadamente 2 bilhões de pessoas no mundo e são os únicos alimentos apontados como “alimento do futuro na indústria 4.0”, além do forte engajamento sustentável.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não têm regulamentações para criação, venda e processamento dos insetos comestíveis no Brasil.
Fonte: Universidade Federal de Santa Maria e especialistas consultados.
Análise
"Insetos possuem proteínas e fibras"
“Nutricionalmente, os insetos possuem boa quantidade de proteínas, fibras, ômega 6, ômega 3, cálcio, fósforo, ferro e zinco. Dessa forma, também podem servir como suplementos alimentares para indivíduos desnutridos.
Vale destacar que esses nutrientes só são atingidos em altas concentrações quando os insetos são criados especificamente para a alimentação humana. Os insetos já estão presentes em alimentos industrializados há muito tempo, sem que a maioria dos consumidores saiba.
Exemplo disso é o corante de carmim de cochonilha, feito a partir do inseto Dactylopius coccus, presente em iogurtes e outras guloseimas industrializadas de cor rosa ou vermelha.
Além da saúde, como um dos benefícios da inclusão dos insetos na alimentação, as criações de insetos emitem bem menos gases de efeito estufa do que as de outros animais”.
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