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Cidades

“Precisamos resgatar o hábito de leitura em todas as idades”, diz especialista

Responsabilidade em construir essa prática precisa ser transferida para todos segmentos da vida, defende o especialista


Importante para a formação do pensamento crítico, o estímulo das capacidades cognitivas e a criatividade, a leitura tem se transformado no País: o percentual de leitores caiu de 56% para 52%, entre 2015 e 2019, como aponta o último relatório Retratos da Leitura no Brasil. 

As redes sociais influenciam a queda, de acordo com a pesquisa, mas há razões estruturais para o problema, explica o doutor em Literatura e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Orlando Lopes Albertino.

O futuro da leitura no País depende da transformação da sociedade brasileira em uma sociedade da informação e do conhecimento, argumenta o especialista.  

A TRIBUNA - Quais são os principais fatores que influenciam o cenário da leitura no Brasil?

ORLANDO ALBERTINO - Há uma série de fatores. Um deles é histórico. Viemos de uma cultura oral e tivemos problemas nas políticas educacionais. Há uma argumentação sobre a presença da tecnologia e seus efeitos, mas isso tem vários pontos de discussão porque, em algum sentido, estamos lendo mais. Há mais informação escrita, mas a tecnologia afastou a população de certos tipos de leitura. Há um crescimento, mas, também, um afastamento de repertórios que não circulam na população, em geral.

Nas redes sociais, há diversos estímulos em meio aos textos. Isso pode prejudicar a atenção à leitura? 

Nós temos uma cultura inteira baseada no formato do livro e da unidade do texto. Os teóricos chamam o que vivemos hoje de 'multitarefa', um fluxo de várias informações em frente ao usuário. Isso nos torna dispersos. Somos a geração mais dispersa da humanidade. Nas redes sociais, a informação salta aos olhos do leitor. Em um livro, é preciso buscá-la.

Hoje, quando estou com os meus alunos, reforço que uma das características da nova educação é a de voltar-se mais ao estímulo às capacidades cognitivas do indivíduo do que ensinar a informação específica. 

Se eu estiver concentrado, não me perco. Não importa se irei acessar sites com pop-ups (janelas com informações publicitárias) ou não. Precisamos forçar nossa capacidade de consciência a focos de concentração. Precisamos ter consciência de que não podemos perder a concentração. 

Os livros podem competir com esses estímulos das redes sociais?

Falando em termos de evolução de tecnologia, a primeira questão muito importante é que o livro é uma cultura de 500 anos. O smartphone e o tablet são muito recentes, são tecnologias que não terminaram de amadurecer. Com o e-book, (ouviu-se dizer) que seria o formato a substituir o livro, mas ainda não é um amadurecimento: existe uma associação dos e-books com livros educacionais.

Apenas ler já basta ou é preciso selecionar melhor o que se lê?

Pensando no desenvolvimento cognitivo, ler é melhor do que não ler. Com o hábito da leitura, a pessoa consegue separar a informação. Do ponto de vista instrumental, é melhor ler qualquer coisa do que nada.

Agora, do ponto de vista cultural, ler coisas ruins causa pensamentos ruins, a não ser que a pessoa tenha consciência crítica sobre o que está lendo. O grande problema é ser capturado por esse repertório (duvidoso). 

O fato de termos uma massa tão expressiva de conteúdo duvidoso traz a discussão sobre o livro como um objeto de cultura. A circulação dos livros depende de um aparelho, que é a crítica especializada. 

O problema é que ela foi sequestrada com a digitalização do jornalismo profissional. Quando tínhamos crítica de literatura, havia apontamentos sobre direções do que estava sendo produzido. 

A postura de que o mercado sabe se autorregular torna tudo muito comercial. Há um esforço para vender mais, para o que dá dinheiro e, por vezes, vendem-se livros de qualidade duvidosa.

O que explica as escolhas literárias dos brasileiros?

Em termos estatísticos, sempre houve a tendência para o best-seller. Até os anos 1990 e começo dos anos 2000, ainda havia um autor com um esforço literário. Com a supressão da crítica especializada, ficamos sem referência de indicação. Isso nos fez tender a preencher nossas lacunas, como um apelo psicanalista. 

As pessoas estão desesperadas por saúde mental. Antes, líamos textos de sabedoria, como a bíblia ou a tradição filosófica. Só que, com 10 horas por dia de redes sociais, estamos expostos à publicidade de livros de autoajuda, que é o que vende. Há uma fratura existencial e esses conteúdos preenchem essa carência. 

De acordo com o relatório Retratos da Leitura no Brasil, a leitura cresce apenas na faixa-etária de 5 a 10 anos. O que explica isso?

É uma faixa etária em que eu não trabalho cotidianamente, então, é difícil uma análise. Posso dizer que há uma questão de base, que é a qualidade da educação. A criança tem uma curiosidade natural para o mundo. 

À medida em que vamos acostumando com o acesso aos meios digitais, (a usabilidade) fica mais fluída. A tendência da criança (com esses estímulos digitais) é assistir séries e jogar videogames, se afastando cada vez mais do tempo de  leitura. Os livros têm dificuldade por conta da estaticidade. Precisamos resgatar o hábito da leitura em todas as idades. 

Como resgatar, então?

Vou falar algo muito utópico, mas o que precisamos entender, como civilização, é que estamos transitando em um modelo de sociedade, que é a ideia de sociedade de conhecimento e da informação. Ambos não são mais propriedade da educação: a responsabilidade por construir o hábito de leitura precisa ser transferida para todos os segmentos da vida, como a igreja, com a teologia, a empresa, com a educação continuada, e o próprio indivíduo, no dia a dia. Ao abrir uma empresa, por exemplo, é preciso ler sobre empreendedorismo. 

Somos uma sociedade que emergiu da cultura da oralidade. Tudo o que é escrito assusta no Brasil. Precisamos transformar o Brasil em uma sociedade da informação. Isto é um problema federal, estadual e municipal. 

Tenho uma grande recomendação para incentivar a leitura. A grande dica é começar a ler em grupo! Precisamos quebrar essa relação (da leitura com a solidão) e lembrar que tudo o que lemos vira assunto para conversarmos uns com os outros. Ganhamos assunto para discutir com o nosso círculo social. A leitura deve ser um processo socializante. 

Um livro cujas pessoas discutam em grupo será lembrado até o fim da vida. Como assistimos muitos filmes e séries, em um mês ou dois, nem nos lembramos do que vimos.

QUEM É?

Orlando Lopes Albertino

Doutor em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Orlando Lopes Albertino é  professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), desde 2010.

É ativista cultural e poeta, participando de ações diversas no campo da produção e difusão cultural no Espírito Santo, com ênfase na promoção e na mediação da leitura.

Como pesquisador, estuda fundamentos da prática literária.

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