Polícia descobre venda de remédios falsos para mais de dez doenças no ES
Policiais federais descobriram esquema clandestino de venda de medicamentos indicados para tratar mais de 10 doenças
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Atuando no combate a produtos falsificados e importados de forma irregular para o Brasil, a Polícia Federal descobriu um esquema clandestino de venda de remédios autoimunes indicados no tratamento de mais de 10 doenças.
Em atuação conjunta com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, policiais realizaram ontem a Operação Autoimune. Foram cumpridos 32 mandados de busca e um de prisão no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
No Estado foram cumpridos três mandados de busca e apreensão em Vila Velha, entre os quais em uma empresa que, segundo a polícia, comprava esses medicamentos. Os outros foram cumpridos na casa do dono da empresa e na residência do responsável pela intermediação das vendas.
A quadrilha era composta por quatro núcleos: fornecedores, onde estavam os estudantes de Medicina no Paraguai; transportadores; intermediadores e compradores.
As investigações apontam que os estudantes contactavam farmácias no Paraguai e distribuidores dos medicamentos que saíam do país vizinho, chegando a Mato Grosso do Sul e a Mato Grosso.
Os intermediadores negociavam as vendas e os compradores faziam a disseminação dos remédios que chegaram a 65 municípios e em mais de 100 instituições no Brasil (clínicas e unidades hospitalares do SUS), cujos nomes não foram divulgados.
A neurologista Soo Yang Lee classifica o esquema como gravíssimo. “Poderíamos comparar com uma tentativa de homicídio porque se você usa um medicamento que pode levar alguns riscos, se ele for falsificado, isso aumenta. Além de não tratar a doença, porque as doenças autoimunes podem deixar sequelas irreversíveis, ainda pode levar a complicações isquêmicas, no coração e no cérebro”.
O presidente da Associação Médica do Espírito Santo (Ames), Leonardo Lessa Arantes, também alerta para o risco de tomar uma medicação falsa, seja por não conter os princípios ativos na dosagem correta ou por até mesmo serem substâncias desconhecidas.
SAIBA MAIS
Operação Autoimune
O nome se refere aos medicamentos importados no tratamento de diversas doenças autoimunes, ou seja, patologias nas quais o sistema imunológico ataca células saudáveis, levando ao desenvolvimento dos mais variados sintomas.
Cumprimentos de mandados
Um mandado de prisão preventiva em Cuiabá (MT) e 32 de busca e apreensão em Vila Velha (ES), Ponta Porã (MS), Campo Verde (MT), Fernandópolis (SP), Goiânia (GO), Abadia de Goiás (GO), Marília (SP), Ocauçu (SP), Angra dos Reis (RJ) e Campo Grande (MS).
Como era o esquema
O esquema, segundo a polícia, começou por intermédio de estudantes brasileiros de Medicina no Paraguai, que ajudavam a estabelecer contato com os produtores dos medicamentos em Pedro Juan Caballero.
No Brasil, empresas de fachada eram usadas para “esquentar” as notas da comercialização.
Chefe do esquema
Um empresário de Cuiabá é apontado como o responsável pelo esquema de contrabando de medicamentos, que operava em 16 estados brasileiros, alvos da operação ontem.
Ele não tinha autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para comercializar medicamentos e sua distribuidora de remédios tinha no registro o mesmo endereço da clínica de estética da esposa.
A organização criminosa contava com outros núcleos: fornecedores, transportadores, intermediários e compradores. Os acusados movimentaram mais de R$ 4 milhões nos últimos 10 meses.
Doenças autoimunes
A maior preocupação é que os medicamentos falsos eram comercializados para pacientes com doenças autoimunes, que dependiam desses remédios para que o quadro clínico não se agravasse.
Apreensões
As investigações tiveram início com uma apreensão anterior, no Aeroporto Internacional de Campo Grande (MS), de várias caixas de medicamentos de origem argentina contendo o princípio ativo “Neostigmina”. Os produtos estavam desacompanhados de documentação que comprovassem a entrada regular no território nacional.
Na ocasião, também foi apreendida uma caixa do medicamento imunoglobulina com origem argentina e comprovadamente falsificado.
Tratamentos de Doenças
Síndrome de Guillain Barre: quando o sistema imunológico passa a atacar os nervos que fazem parte do sistema nervoso periférico, causando severos sintomas no paciente, como falta de reflexos e forte fraqueza muscular.
Miastenia Gravis: é uma doença autoimune, ou seja, quando o sistema imunológico do paciente ataca células saudáveis por engano. O corpo produz anticorpos que provocam uma alteração na comunicação da célula nervosa e o músculo.
Síndrome de Kawasaki: conhecida por provocar uma inflamação no corpo que acomete principalmente os vasos coronarianos (um quadro chamado de vasculite). Quando evolui de forma grave, ela pode provocar a formação de aneurisma nas artérias, arritmia e infarto agudo do miocárdio.
Púrpura trombocitopênica idiopática: doença autoimune caracterizada por níveis baixos de plaquetas, células sanguíneas que previnem o sangramento.
Imunodeficiências de modo geral (sem ser por HIV), como a agamaglobulinemia ligada ao cromossomo X. Na verdade, é uma imunodeficiência hereditária secundária a uma mutação em um gene do cromossomo X (sexual).
Dermatomiosite: doença inflamatória caracterizada por fraqueza muscular e erupções cutâneas.
Polineuropatia: disfunção simultânea de vários nervos periféricos por todo o organismo. Infecções, toxinas, medicamentos, câncer, deficiências nutricionais, diabetes, doenças autoimunes e outras doenças podem fazer muitos nervos periféricos funcionarem incorretamente.
Hepatite: qualquer inflamação do fígado por causas diversas, sendo as mais frequentes as infecções pelos vírus tipo A, B e C e o abuso do consumo de álcool ou outras substâncias tóxicas (como alguns remédios).
Raiva: é uma doença infecciosa viral aguda grave, que acomete mamíferos, inclusive o homem.
Rubéola: é uma doença infecciosa causada por um vírus e que leva ao aparecimento de sintomas como febre e manchas vermelhas na pele.
Obs: A neostigmina inibe a colinesterase, impede a destruição da acetilcolina, facilitando a transmissão do impulso nervoso na placa neuromotora. Indicação: Retenção urinária no pós-operatório; distensão abdominal; miastenia gravis.
Fonte: Polícia Federal e médicos citados.
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