Paciente tem complicações gravíssimas após tratamentos feitos por biomédico
Até o momento, sete mulheres atendidas por biomédico foram identificadas. Clínica fica em Vitória e funciona desde 2020
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Uma clínica administrada por um biomédico de 39 anos, na Enseada do Suá, em Vitória, está sendo investigada após mulheres denunciarem que ficaram com os rostos deformados em procedimentos estéticos realizados por ele, como cicatrizes grosseiras e nódulos.
Até o momento, sete pacientes desse biomédico, que não teve a identidade revelada, já foram identificadas pela polícia. A clínica funciona desde 2020.
A primeira fase da investigação começou depois que uma vítima fez uma notícia-crime contra o biomédico, segundo o delegado titular do 3º Distrito Policial de Vitória, Diego Bermond, que está à frente da investigação.
“Ela fez dois procedimentos: lifting e blefaroplastia, que é a retirada de pálpebras. Uma parte do seu rosto ficou caído e também ficou com nódulos, além das cicatrizes que ficaram muito grosseiras e aparentes. Diante disso, nós iniciamos diligências policiais acerca da elucidação desse crime. Primeiramente oficiamos os conselhos regionais dos profissionais que atuam nessa clínica”.
No último dia 27, foi cumprido um mandado de busca e apreensão na clínica. Além da Polícia Civil, representantes do Conselho Regional de Biomedicina e da Vigilância Sanitária de Vitória também acompanharam a operação, cuja divulgação só foi feita ontem.
O biomédico, segundo o delegado, estava com o registro suspenso desde maio deste ano. Em seis meses, até o dia 27 novembro, ele realizou cerca de 600 atendimentos ou procedimentos.
No dia da operação, a clínica foi parcialmente interditada.
“A clínica não foi interditada completamente porque existem outros profissionais ali habilitados a fazer procedimentos, mas o biomédico, segundo a Vigilância Sanitária, não pode atuar lá porque está com o registro no CRBM (Conselho Regional de Biomedicina) suspenso. Espero que, após as investigações, o registro dele seja cassado”, disse o delegado.
O acusado foi indiciado por lesão corporal gravíssima, exercício ilegal de medicina e estelionato e ainda poderá responder por crime contra o consumidor por publicidade enganosa.
O motivo é que ele teria divulgado em seu Instagram imagens de “antes e depois” de procedimentos realizados por um cirurgião plástico de São Paulo.
Além dele, uma odontóloga, que atuava com ele na clínica, foi citada pelas vítimas e indiciada.
Paciente
“Choro todos os dias ao olhar no espelho”, conta paciente
Pedindo para o seu nome ser preservado, uma das pacientes que procurou a Polícia Civil para denunciar o biomédico conversou ontem com a reportagem de A Tribuna e contou como tudo aconteceu. Hoje ela tem 53 anos.
A Tribuna Quando e como chegou até a clínica que está sendo alvo de investigação?
Paciente Foi em 2021. Cheguei até esse profissional pelo Instagram. Vi as postagens sobre o antes e o depois de procedimentos que ele dizia que fazia e achei os resultados maravilhosos. Decidi marcar uma consulta.
Na forma como ele se apresentou, achava que era capaz, que era bem experiente na área. Se tivesse dúvida, jamais teria coragem de ser submetida ao procedimento. Ele passou muita segurança.
Por que o procurou?
Sou muito cuidadosa, mas a idade me deixou com um pouco de flacidez na face, mais na bochecha e ele me indicou minilifting para dar uma levantada. Marcamos o procedimento que não demorou para ser feito.
Como foi o procedimento?
Foi dentro da clínica com anestesia local. No dia, fui atendida por esse profissional, que nem sabia que era (biomédico) e duas meninas, que somente depois de muito tempo, já com o rosto danificado, é que soube que era uma farmacêutica e uma odontóloga. Cheguei por volta das 9 horas e saí de lá por volta das 15 horas.
Quando percebeu que algo estava errado?
Na hora não percebi nada. Depois de 15 dias tirei os pontos e cerca de um mês depois os problemas começaram. O meu rosto caiu, ficou muito flácido, inchado e começou a doer e estou com nódulos e cicatrizes.
Preocupada, fui procurá-lo e ele só me falou que precisava refazer o procedimento. Fiquei sem saber o que fazer, sem palavras e percebi que algo estava errado.
Por orientação de uma outra pessoa, procurei um advogado, que me informaou ele era só biomédico e não era apto a tais procedimentos, assim como a odontóloga e a farmacêutica que ajudaram no procedimento.
Como se sente ao olhar no espelho?
Choro todos os dias ao olhar no espelho e espero que a lei seja cumprida para que ele não continue danificando outras pacientes.
Entenda
Denúncia
A investigação teve o ponto inicial depois que uma paciente registrou uma notícia-crime contra um biomédico, de 39 anos, que é sócio-administrador de uma clínica na Enseada do Suá, em Vitória.
Ela o acusa de ter feito um procedimento estético nessa clínica e de ter ficado com rosto caído, nódulos e cicatrizes, como conta o delegado titular do 3º Distrito Policial de Vitória, Diego Bermond.
“O sócio-administrador dessa clínica é um biomédico que está sendo acusado de realizar procedimentos que ele não está habilitado por conta justamente da sua profissão. Ele é um biomédico e trouxe consequências gravíssimas para essa vítima, assim como para outras pacientes, como estamos investigando”, disse o delegado.
Primeira fase
Entre os procedimentos que teriam sido realizados por ele estão lifting (que tem como objetivo, por exemplo, melhorar a aparência do rosto, reduzindo rugas, flacidez e outros sinais de envelhecimento) e blefaroplastia, um procedimento cirúrgico realizado nas pálpebras.
Mandado de busca e apreensão
No último dia 27 foi realizada uma operação para cumprir mandado de busca e apreensão, que contou, além da Polícia Civil e Polícia Científica, com a presença de representantes da Vigilância Sanitária de Vitória, do Conselho Regional de Medicina e do Conselho Regional de Biomedicina, segundo o delegado.
Indiciado e crimes
Na primeira fase da investigação, o biomédico foi indiciado por lesão corporal gravíssima, crime contra a saúde pública, que é o exercício legal da medicina, e também estelionato, que é um crime contra o patrimônio dessas pessoas, como explicou o delegado.
“O estelionato porque ele obteve ali essa vantagem ilícita como se fosse uma pessoa habilitada, um profissional habilitado para fazer esse procedimento e induzindo essa paciente em erro”, disse Diego Bermond.
Segunda fase
Outras vítimas já foram identificadas e as investigações seguem. Novas vítimas serão ouvidas.
A Polícia Civil não descarta que outros funcionários da clínica possam ter participação, o que pode levar a novos indiciamentos.
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