Paciente com 28 graus de miopia volta a enxergar: "Meu caso era de cegueira"
Jaqueline Helena nasceu com lesão na retina e desenvolveu miopia degenerativa. Ela passou por cirurgia para corrigir a visão
Depois de mais de três décadas com problemas na visão, Jaqueline Helena Machado Brito, de 36 anos, finalmente poderá enxergar o mundo com mais qualidade.
Moradora do município de Montanha, no Norte do Estado, ela nasceu com lesão congênita na retina e desenvolveu durante a infância miopia degenerativa, com o grau chegando a 28. Para corrigir esse último problema, fez em outubro deste ano uma cirurgia, a qual considera especial.
“Fiquei muito feliz ao saber que poderia fazer o procedimento porque já fui desmotivada por médicos no passado. Eles não queriam realizar cirurgia nos meus olhos, fosse para reduzir o grau ou para tratar o meu estrabismo”.
Esse tipo de operação sempre foi necessária porque nem óculos e nem lente de contato serviam. “Nunca tive uma boa visão. Minha lente de contato ia até o grau 20 e não era o suficiente”.
“Fiquei muito feliz ao saber que poderia fazer o procedimento porque já fui desmotivada por médicos no passado Jaqueline Helena Brito, paciente
Quem realizou o procedimento na paciente foi o oftalmologista do Hospital de Olhos de Vitória (HOV), César Ronaldo Filho. Ele foi feito inicialmente no olho direito e no último dia 11, ela passou pela mesma intervenção desta vez no olho esquerdo.
O médico explicou sobre a ação. “Uma vez que não é possível corrigir todo o grau de miopia da paciente usando apenas a cirurgia tradicional com laser na córnea, nós optamos por implantar dentro do olho uma lente com o grau da paciente”.
“São feitos exames para medir não só o grau total do olho, como também as dimensões internas dele para saber se a paciente pode ou não passar pelo procedimento. Depois disso, pedimos a confecção de uma lente com o grau e a implantamos”, completou.
Ele disse que essa não é uma técnica nova, porém, hoje há o acesso a equipamentos muito mais precisos para tirar as medidas do grau total do olho, assim como as medidas do tamanho e formato dele.
“Outra mudança está nas lentes implantadas: hoje estão muito mais precisas, corrigindo praticamente todos os tipos de graus que nós precisamos”, destacou.
César afirmou que, apesar do grau de miopia ter sido praticamente zerado e a visão de Jaqueline ter apresentado uma melhora excelente, ela ainda terá algumas dificuldades para ver pequenos detalhes, uma vez que a lesão da retina não tem tratamento e compromete uma pequena parte da visão.
“Mas trata-se de uma cirurgia que traz ao paciente uma melhora na qualidade de vida e uma independência visual impressionante. Dá total independência para a paciente fazer todas as atividades do dia a dia”, finalizou.
“Trata-se de uma cirurgia que traz ao paciente uma melhora na qualidade de vida e uma independência visual impressionante César Ronaldo Filho, oftalmologista
“Uma médica disse que meu caso era de cegueira”
A Tribuna Como o seu problema de visão foi descoberto?
Jaqueline Helena Machado Brito: Na época, os meus pais não entendiam muito. O bebê costuma levar tudo o que pega para a boca, e eu não, eu levava tudo da minha mão até o olho. Uns falavam que era mania, e o tempo foi passando.
Com 2 anos, meu pai percebeu que eu tinha problema de vista, pois eu batia meu corpo com frequência em móveis e objetos. No médico, descobriram que eu tinha um grau muito alto de miopia.
Alguém da sua família tem um quadro parecido com o seu?
Não sei dizer em relação à minha família materna. Mas sei de uma tia que tinha problema de vista também.
Óculos e lentes não funcionavam?
Comecei a usar óculos aos 3 anos, quando já tinha mais de 10 graus de miopia, e nunca foi 100%. Minha visão nunca foi boa, sempre embaçada. Depois passei a fazer o uso de lentes e mesmo assim continuava com o incômodo. Minha lente só ia até os 20 graus, sendo que eu tinha 28 de miopia.
Você já sofreu por ter problemas na visão?
Passei por muita coisa. Na infância sofri bullying por conta dos óculos de estilo “fundo de garrafa”, e quando ele quebrava, eu tinha que ir para escola sem. Já apanhei de outras crianças. Eu também tinha dificuldades na sala de aula e precisava sempre sentar na frente para enxergar melhor.
Antigamente eu acordava no meio da noite achando que estava cega. E sempre fui muito cautelosa a fazer tudo, como, por exemplo, ir à academia. Por conta da fragilidade dos meus olhos, desenvolvi um grande medo de romper a retina e ficar cega.
Já foi desmotivada a fazer a cirurgia?
Seja para reduzir o grau da miopia ou para tratar o estrabismo, sempre me disseram que não era para eu fazer cirurgias senão perderia minha visão.
Certa vez, uma médica disse que meu caso era de cegueira. Ela sugeriu que eu aprendesse braille e procurasse um psicólogo para aceitar que não tinha cura. Mas deu tudo certo. Um oftalmologista de São Mateus indicou o doutor César, que fez o procedimento para reduzir o grau.
O que sentiu ao saber que faria a cirurgia?
Fiquei feliz demais e sou muito agradecida. Agora eu enxergo tudo limpo com o olho direito. É claro que ele também precisa se acostumar.
Fique por dentro
Lesão congênita na retina
Lesão congênita na retina é uma alteração presente desde o nascimento (por isso se chama congênita) que afeta a retina, parte do olho responsável por captar a luz e formar as imagens que o ser humano vê.
A lesão apresentada em Jaqueline Helena Machado Brito não tem tratamento, disse o oftalmologista César Ronaldo Filho.
Cegueira
Segundo César, existem lesões de retina que podem levar à cegueira. Geralmente são decorrentes de infecções durante a gestação, como toxoplasmose, sífilis e rubéola; há lesões de retina devido ao diabetes, retinoblastoma, à degeneração macular relacionada à idade; e lesões devido ao descolamento de retina ou a derrames no olho.
Miopia degenerativa
A miopia degenerativa é uma forma grave e progressiva de miopia (dificuldade para ver de longe), em que o olho cresce demais no sentido do comprimento.
Esse alongamento faz com que a retina e outras estruturas oculares fiquem mais finas e frágeis, podendo causar complicações sérias que afetam a visão.
A visão de longe é muito borrada, e o grau tende a aumentar ao longo da vida. No caso de Jaqueline, sua miopia causa um “embaçamento absurdo” na visão, disse César Ronaldo Filho.
Caso Jaqueline
Cirurgia
Teve como objetivo tratar a miopia, e não a lesão congênita na retina, pois no caso de Jaqueline, não há tratamento.
Segundo César, hoje na medicina é possível tratar praticamente qualquer grau de miopia, inclusive os mais extremos.
Existem técnicas diferentes para cada tipo de grau, sendo que nos menores geralmente há o uso de laser, e nos graus mais elevados, em que o laser não consegue corrigir todo o grau, são utilizadas as lentes intraoculares.
Esse último caso foi o procedimento feito em Jaqueline. Foi implantado no olho direito da paciente uma lente com grau. No último dia 11 ela passou pela intervenção no olho esquerdo.
Fonte: Pesquisa AT e oftalmologista César Ronaldo Filho.
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