O que eu vi e vivi: “Fiz a primeira cirurgia de coração no Estado”
Schariff Moysés, de 84 anos, lembra da ansiedade e do peso da responsabilidade ao realizar procedimento pioneiro, em 1967
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“A medicina é tão antiga quanto o próprio ser humano, mas seu objetivo é o mesmo desde quando surgiu: servir à população e salvar vidas.
Às vezes, com a turbulenta rotina hospitalar, não percebemos momentos importantes de nossa trajetória, mas, em outras ocasiões, temos certeza de que fizemos história. Foi assim que me senti quando fiz a primeira cirurgia de coração do Estado.
Lembro-me, vividamente, da ansiedade e do peso da responsabilidade daquele momento, em 1967. Uma cirurgia que hoje dura 15 minutos foi feita em seis horas. Não tínhamos tecnologia a nosso favor, nem ao menos técnicas cirúrgicas com tamanha eficiência quanto as atuais.
A cirurgia foi de correção do canal arterial cardíaco de uma criança de apenas 4 anos, feita no atual Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), que funcionava como Hospital Getúlio Vargas. No passado, a medicina era muito mais arriscada. O corte da cirurgia, por exemplo, era grande e evidente.
Com a tecnologia, tudo mudou: consigo realizar o mesmo procedimento com um corte pequeno.
Até aparelhos para fazer diagnóstico eram raros naquela época. Vivíamos o início de um cenário da medicina e, nesses últimos 50 anos, participei da evolução da cirurgia cardíaca no Estado.
Vejo hoje que a inteligência artificial está se inserindo, cada vez mais, no dia a dia dos médicos e, com certeza, irá orientar melhor o futuro da área.
"A medicina, com certeza, irá se revolucionar, necessitará de novas discussões éticas e ficará mais acessível à população”
A recuperação das cirurgias, com a tecnologia, dura cerca de três dias ou quatro dias. Antes, levava 15 a 20 dias, por exemplo. Essas novidades na área cirúrgica estão mais bem distribuídas.
Além disso, as disparidades regionais diminuíram. Hoje, Vitória é comparada a qualquer lugar do País em cirurgia cardíaca. Não fica atrás de nenhum lugar, nem mesmo de São Paulo.
A medicina, com certeza, irá se revolucionar, necessitará de novas discussões éticas e ficará mais acessível à população, mas, independentemente de qualquer mudança, a função social será a mesma.
Quando fiz especializações com o Dr. Adib Jatene, em São Paulo, ouvi uma citação dele que nunca me esqueci. “Qual é a função do médico? A função do médico é a cura. Se ele não cura, ele alivia. Se ele não cura e não alivia, ele é obrigado a consolar. O médico deve ser, acima de tudo, ‘médico de gente’”.
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